Património público na mira de “marimbondos”

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Os alvos principais são as residências e automóveis afectos às embaixadas e consulados acabados de fechar. Mas fonte da Presidência da República assegura que ninguém deitará as manápulas aos luxuosos veículos.

Um plano secreto que visa a aquisição de valiosos bens do Estado a “preços de banana” foi gizado por um restrito grupo de influentes políticos angolanos. Os bens são essencialmente automóveis de luxo e imóveis em várias partes do Mundo, com destaque para a Grécia e Portugal, o país que mais “seduz” a classe política nacional.

O plano surge na sequência do encerramento, o ano passado, de quatro embaixadas de Angola e cinco consulados, no âmbito da política de redimensionamento das Missões Diplomáticas e de corte de gastos preconizada pela Presidência da República, em razão da crise económica que o país vive desde finais de 2014, quando o preço do petróleo bruto baixou drasticamente no mercado internacional.

O encerramento das embaixadas de Angola junto da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), no México, na Grécia e no Canadá, assim como dos consulados de Durban (África do Sul), Los Angeles (EUA), Frankfurt (Alemanha), Hong Kong (China) e Faro (Portugal) é o primeiro passo de uma acção bem mais ampla que visa fechar no total nove embaixadas e 18 consulados. Com isso, o país prevê poupar mais de € 54 milhões anualmente.

Na sequência desses encerramentos, o Presidente da República autorizou a 20 de Março último, através do despacho 30/19, publicado no Diário da República, a venda, “na modalidade de negociação com publicação prévia de anúncio”, das chancelarias das embaixadas angolanas no México e Canadá, do consulado e da residência oficial em Durban (África do Sul) e das residências oficiais dos embaixadores no Canadá e Grécia. O ministro das Finanças, Archer, Mangueira, foi indicado “para proceder à negociação e alienação dos imóveis referidos, bem como os demais atos que se mostrarem necessários para esse fim”.

Carros como este, património do Estado angolano, estão a ser disputados quase que à dentada pelos mesmos políticos que sempre se alimentaram do que é de todos.

Entre os bens imóveis do Estado angolano a alienar neste processo, a residência oficial na Grécia tem sido alvo da descarada cobiça de várias figuras da alta hierarquia política do país. Como se sabe, as ilhas gregas são dos mais solicitados destinos turísticos europeus durante o Verão e a bicha de candidatos angolanos, todos políticos, é grande. De modo tal, que vêm exercendo forte pressão sobre a comissão técnica que trabalha no assunto.

A pressão é tanta que um indivíduo do grupo de trabalho, onde representava o Ministério das Finanças, já foi “ejectado” por defender boas práticas de negócio, como, por exemplo, a contratação de serviços especializados para a venda dos imóveis. Segundo disse ao Correio Angolense fonte da IGAE (Inspecção Geral da Administração do Estado), que não quis ser identificada, o desejado afastamento de empresas do ramo imobiliário das transacções pode ter a ver com falcatruas cometidas na altura da aquisição desses bens. “Temos conhecimento de imóveis cujo preço de mercado era USD 1,5 milhão, mas que foram adquiridos a USD 12 milhões. É lógico que o dinheiro excedente foi parar a bolsos indevidos e se o negócio for entregue a quem sabe efectivamente do ofício, muito roubo há de vir ao de cima”, augura.

Embora o Presidente da República não tenha ainda ordenado a venda do património imobiliário angolano em Hong Kong e em Faro, também já há bicha formada por políticos para a aquisição desses imóveis e é longa. Na verdade, há muito tempo se vêm acotovelando para ver quem fica com o quê. Afinal, trata-se de uma das maiores praças financeiras mundiais, no primeiro caso, e, no segundo, da capital da mais significativa região turística de Portugal, país-fetiche de muitos governantes angolanos que chegam a ter bens mais valiosos na antiga Metrópole do que no país que os viu nascer.

Quanto à luxuosa frota usada pelos embaixadores e cônsules, fonte do Palácio da Cidade Alta assegurou ao Correio Angolense que virá a Angola, mais concretamente para a Presidência da República. “Estamos a falar de dezenas de tipos de carros que sequer são usados por alguns presidentes europeus. Estamos a falar de Mercedes 500 e Audi Q-8, ambos em versão presidencial”, disse a mesma fonte antes de explicar que são automóveis novos que “custaram milhões de dólares aos cofres do Estado”.