PR frustra golpe dos “marimbondos”

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Em mensagem que mandou transmitir ao jornalista Rafael Marques, João Lourenço garantiu que já “não haverá bairro dos ministérios”

O “Bairro dos Ministérios”,  um megalómano projecto imobiliário destinado a acolher o Centro Político Administrativo, já não sairá do papel.
Em mensagem que fez chegar ao jornalista Rafael Marques, autor de um texto em que desnuda os interesses escusos que se movimentavam por detrás daquele projecto imobiliário, o presidente da República garante que já “não haverá mais Bairro dos Ministérios” 
O Bairro dos Ministérios foi recentemente apresentado ao público como um projecto imobiliário que albergaria, entre outras infraestruturas, 28 ministérios, residências protocolares,  parques de estacionamento e áreas verdes. 

Projectado para ocupar uma área de 211, 7 mil metros quadrados, supostamente o Bairro dos Militares não custaria um centavo aos cofres públicos. O investimento, segundo o ministro da Construção e Obras Públicas, Manuel Tavares, seria inteiramente suportado pela iniciativa privada.

Mas através do despacho n. 19/19, de 2 de Fevereiro passado, o Presidente da República autorizou a celebração de um contrato com a Sodimo para a aquisição de um terreno de 211, 7 mil metros quadrados pelo valor de 344 milhões de dólares. Trata-se exactamente do mesmo terreno onde seria construído o Bairro dos Ministérios.  

Alertado por um texto que Rafael Marques publicou no seu site no dia 6 de Agosto, o Presidente da República tomou a decisão de abortar o projecto. “Não haverá mais Bairro dos Militares”, mandou transmitir ao jornalista. Nesse texto, Rafael Marques destapou os contornos, bastante nebulosos, dos movimentavam por detrás do pretendido Bairro dos Ministérios e escancarou os nomes dos seus verdadeiros beneficiários.

Enfurecido com a rejeição popular ao projecto, o ministro da Construção e Obras Públicas, Manuel Tavares, disse, no final da 7ª Sessão Ordinária do Conselho de Ministros, em 31 de Julho, que “pôr em causa o projecto é simplesmente desmobilizar as intenções já manifestadas de investimento do sector privado nacional e estrangeiro e descredibilizar o país”. Ele tomou a reação da sociedade como uma manifestação “de falta de urbanismo e honestidade”.   

“As vozes críticas que estavam  contra a construção do Aproveitamento Hidroeléctrico de Capanda e, por isso, fizeram atrasar sobremaneira a sua conclusão, são as mesmas vozes que hoje reclamam que o país não tem energia”,vociferou o colérico ministro.

O ministro da Construção e Obras Públicas nunca revelou os custos do megaprojeto para supostamente “não influenciar a concorrência”. Mas o investigador Rafael Marques estimou-os em 3, 6 mil milhões de dólares.  

Com o fim da aventura, a Sodimo, detida por diferentes entidades, todas elas gravitando em torno da Fundação José Eduardo dos Santos (FESA) e do MPLA, ver-se-á obrigada a devolver aos cofres públicos os 344 milhões de dólares que recebeu gratuitamente. 

A decisão do Presidente da República de que “não haverá mais Bairro dos Ministérios” é um rude e doloroso golpe aos marimbondos e, nomeadamente, ao ministro da Construção e Obras Públicas, que usou todos expedientes, incluindo os poucos ortodoxos, para obter do Estado o rápido e imediato pagamento da factura de 344 milhões de dólares.Manuel Tavares passou pelo  Gabinete de Aproveitamento do Médio Kwanza (GAMEK), onde, segundo fontes conhecedoras do assunto, não deixou saudades.