Um fardo chamado João Maria de Sousa

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O antigo Procurador Geral da República não quer ser enterrado nesta m…chamada Angola

Corre em alguns círculos políticos que certo dia, depois de haver comprado uma extensa e produtiva vinha na região de Braga, em Portugal, o então Procurador Geral da República, general João Moreira Maria de Sousa, levou familiares e amigos a um restaurante de luxo para “baptizar” a aquisição, pela qual pagou uns bons milhares de dólares.

Às tantas e já ligeiramente inebriado pelo vinho de pura casta que era ali servido a rodos, João Maria de Sousa abriu o coração: “Quero aqui comunicar a todos que quando morrer quero ser enterrado aqui. Não quero que o meu corpo vá para aquela m…de Angola”.

A semana passada, o Clube K noticiou que a Unidade de Protecção de Individualidades Protocolares (UPIP) do Comando Geral da Polícia Nacional reduziu de 30 para 24 o número de efectivos que protegem o antigo Procurador Geral da República.

De acordo com o site, em quantidade de homens que garantem a sua protecção João Maria só é suplantado pelo actual Presidente da República e pelo seu antecessor, José Eduardo dos Santos.

Nos 10 anos que dirigiu a Procuradoria Geral da República, a corrupção e a impunidade quase ganharam dignidade constitucional. Durante esse longo período, nenhum “peso pesado” foi levado à barra do tribunal por crime de corrupção ou qualquer outra lesão a interesses do Estado. Em contrapartida, durante o consulado do João Maria de Sousa, as cadeias do país ficaram sempre sobrelotadas de cidadãos acusados da prática de crimes puníveis com penas ligeiras ou mesmo passíveis de ser convertidas em multas. Por causa da pesada herança de João Maria de Sousa, hoje as cadeias do país ainda continuam apinhadas de pilha-galinhas, pessoas detidas por roubo de botijas de gás, telefones celulares e outros bens de somenos importância. Há ainda cidadãos que continuam a expiar crimes como o de roubo de pão para saciar a fome.

João Maria de Sousa justificou, sempre, alegou sempre falta de provas para inculpar cidadãos que enriqueciam do dia para a noite sem a menor justificação plausível. A alegada falta de provas, por detrás da qual se refugiava o PGR, era contrariada por “montanhas” de relatórios de credíveis organizações internacionais como FMI, Banco Mundial,  “Human Watch Rights” e outras que incluíam Angola no topo do ranking dos países onde a corrupção e a impunidade mais prosperavam.

Ao fim de 10 anos, o único “troféu de caça” que João Maria de Sousa levou para a casa é o de haver condenado o chamado grupo dos 15 + 2, uma associação de jovens que reclamava, apenas, liberdade e democracia para o seu país.

Com um passivo desses às costas, João Maria de Sousa não é merecedor de mais nenhuma benesse do Estado. Continuar a pagar-lhe os “escoltas” é um escárnio aos milhares de angolanos, muitos deles sem culpa formada, que ele empurrou para as cadeias.

Aliás, em paragens decentes, João Maria de Sousa deveria ser levado a tribunal para responder pelos crimes de incentivo e conivência com a corrupção. E oxalá que, quando a hora fatal lhe bater a porta – e ela há de chegar inevitavelmente -, o Estado angolano não se lembre de assumir os custos da transladação do corpo para a terra onde o infando João Moreira Maria de Sousa quer ser enterrado.