Boavida Neto não “engole” a sua queda

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Ao associar a sua queda a uma hecatombe o ex-secretário-geral do MPLA julga-se com mais capital político do que realmente tem.
“Está a iludir-se. Não passa de um pedestre”, resumiu um seu colega

O que era suposto ser uma festa de aniversário, acabou sendo um pretexto para Boavida Neto carpir as suas mágoas, dramatizar os efeitos da sua queda e expor equívocos em relação ao potencial que julga ter.
No último sábado, o ex-secretário-geral do MPLA juntou mais de 300 pessoas num conhecido espaço de Luanda. Da cúpula do MPLA só faltaram o presidente, a vice-presidente e o secretário-geral. Destes, João Lourenço e Paulo Pombolo estavam ausentes do país. Ambos estavam na Tanzânia, por razões diferentes. O presidente da República tinha lá ido para participar numa reunião da SADC; Paulo Pombolo estava lá para  representar o MPLA num fórum de partidos  políticos.
Mas nada garante que estando em Luanda, tanto um como outro pusessem os pés na festança do ex-secretário-geral.

Em privado, Boavida Neto não tem escondido o desencanto que tomou conta dele desde que foi apeado do cargo de secretário-geral.  A vice-presidente, Luísa Damião, com quem ele procurava competir, embora estivesse abaixo dela, também não foi à festa. Não é sequer liquido que ela tenha sido convidada.
Na última reunião do Secretariado do BP em que ele tomou parte, realizada pouco antes do Congresso Extraordinário, Boavida Neto teve um desaguisado com Luísa Damião e à saída fez constar aos presentes que a vice-presidente do MPLA tinha incluído  dois filhos na lista de candidatos ao Comité Central.
Não tendo ido ao evento, nenhum dos três – isto é, João Lourenço, Luísa Damião e Paulo Pombolo – ouviu de viva voz as lamúrias e insinuações com que Boavida Neto recebeu os convidados que honraram o convite. 
O ex-secretário-geral do MPLA converteu  a sua festa de aniversário numa tribuna de onde, durante pelo menos 40 minutos, fez um exercício de campanha, umas vezes na pele de mártir, outras vezes na pele de herói e quase sempre na pela de inocente.
Pediu que não lhe chamassem de herói pelo seu aniversário. “Eu já nasci herói”, gabou-se.
Acto contínuo, assumiu-se como descomprometido com eventuais correntes no  seio do MPLA. “Não sou netista, nitista, eduardista ou lourencista. Sou um catalizador!
Perdendo de vista posições que tomou após ter tomado posse como SG, da qual ressalta  a peremptória afirmação de que nunca “estaria contra o camarada José Eduardo dos Santos”, afirmação que gerou sérios constrangimentos na direcção do seu partido, Boavida Neto, resumiu o 15 de Junho, dia do seu afastamento, como algo histórico no MPLA. “Houve aí uma hecatombe“.

Boavida Neto  nunca escondeu a frustração de, até hoje, não lhe ter sido dada nenhuma explicação para o seu afastamento do posto de secretário-geral.

As lamúrias do anfitrião foram debitadas em “quantidades” tais que alguns convidados com quem o Correio Angolense conversou tomaram-no como “inconveniente, despropositado, inoportuno e politicamente mal avisado”. 
“Se, na verdade, queria marcar a sua posição devia tê-lo feito antes. Podia fazê-lo convocando uma conferência de imprensa; podia ter levantado a questão no Comité Central ,no BP ou no próprio Congresso. O que se passou na sua festa de aniversário foi triste, cobarde e deselegante perante quem foi com o único propósito de lhe dar um abraço de amizade”.
Outros convivas que pediram o anonimato concluíram que Boavida Neto afinal é mal formado, e que ao associar a sua queda a uma hecatombe julga-se com mais capital político do que realmente tem. “Está a iludir-se. Não passa de um pedestre”, resumiu ao Correio Angolense fonte conhecedora da correlação de forças no interior do MPLA.

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