João Lourenço gere dossier MOVICEL com pinças

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Empresa de telefonia móvel celular comparticipada pela pública Angola Telecom, a MOVICEL está tecnicamente falida há largos anos por ter gasto quase nada em investimentos, principalmente no segmento tecnológico. De sorte que no terreno possui apenas metade das antenas de que necessitaria para prestar um serviço de qualidade irrepreensível. Desorganização e dívidas são os traços mais notados na empresa que não tem gerado dividendos financeiros aos accionistas há já largos anos.

Sem pagar fornecedores de bens e serviços há meses – esta é uma situação que acontece ciclicamente –, em condições normais a MOVICEL já teria fechado. Aos mais de USD 600 Milhões em dívidas, a empresa ainda junta uma série de processos judiciais movidos por credores diversos. Mas as autoridades mantêm-na artificialmente viva – como alguém com morte cerebral mas ligada a aparelhos – por razões políticas e… económicas.

Com os seus cerca de 1,5 milhões de clientes exclusivos (detém 27% da quota do mercado), portanto gente que não trabalha com a outra operadora em actividade, a MOVICEL “segura” uma fatia importante do mercado da telefonia móvel celular do país. Na eventualidade de a MOVICEL fechar as portas, os seus fregueses obviamente migrariam para a UNITEL (detém 73% da quota do mercado), cuja capacidade tecnológica não suporta muito mais que os seus 10 milhões de assinantes. A acontecer, seria o caos no sistema e ocorreria uma congestão sem precedentes que inviabilizaria as telecomunicações. A consequência seria literalmente a paragem do país, um crash. Os bancos deixariam de fazer pagamentos, as companhias aéreas não teriam como emitir bilhetes, os sistemas de vigilância electrónica colapsariam, enfim o país ficaria “cego”, “mudo” e “surdo”.

É desse “apagão” que João Lourenço tem medo e fecha os olhos às irregularidades cometidas pela MOVICEL. Desde as astronómicas dívidas que tem com a Angola Telecom (usa os seus meios mas nunca pagou para o efeito) e outros fornecedores, além de andar na corda bamba em razão das constantes ameaças de greve. Uma paralisação do género levaria possivelmente a um levantamento social sem precedentes, num país que aos poucos está a tolerar manifestações. Estas ameaçariam o poder de João Lourenço. A menos que… houvesse violência das forças militares e policiais para eliminar o virtual levantamento.