“Cacauzinho” insulta ex-colega

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O episódio já tem alguma barba rija, mas só agora “dá à  costa” porque um funcionário do Conselho de Ministros decidiu, finalmente, contá-lo ao Correio Angolense.  

Em reunião do Conselho de Ministros que antecedeu a visita do presidente João Lourenço a Cuba, em Julho passado, o ministro dos Transportes, Ricardo D’abreu, defendeu a aquisição imediata de seis novas aeronaves para a TAAG. De acordo com o proponente, a aquisição de tais aeronaves deveria ser custeada pelo Tesouro Nacional.

O  então ministro das Finanças, que tutelava o Tesouro Nacional, não se opôs à proposta do homólogo, mas condicionou-a à reestruturação prévia da TAAG, não fosse a operação resultar em mais um desperdício de dinheiro público.

Archer Mangueira argumentou que a aquisição de novas aeronaves só deveria ser autorizada após a TAAG empreender uma reestruturação interna séria. Ele defendeu que era necessário estabelecer um rácio razoável entre a quantidade de aeronaves e o número de trabalhadores da companhia. Nas circunstâncias actuais, estima-se que a cada avião correspondem mais de 200 trabalhadores, o que é  um óbvio exagero. 

Inconformado, “Cacauzinho”, como Ricardo D’abreu também é conhecido, refez a estratégia e propôs que a operação fosse sustentada pelo Fundo Soberano de Angola.

Perante a insistência de Archer Mangueira, que também tutelava o FSDA, de que tal operação deveria ser precedida  da reestruturação da TAAG e que o dinheiro para financiar a  eventual compra de aviões deveria ser encontrado noutras partes que não no Fundo Soberano, Ricardo D’abreu tentou contornar as objeções do colega e sugeriu que o Fundo passasse para a tutela directa do Presidente da República.

Archer e Ricardo nos tempos em que ainda eram bons amigos…

João Lourenço percebeu a manobra e desmontou-a afirmando que o FSDA estava muito bem sob a tutela do ministro das Finanças.

Exasperado, Cacauzinho partiu para o insulto ao colega: “Senhor Presidente, continuar a manter o Fundo Soberano sob a dependência do Ministério das Finanças é o mesmo que confiar o galinheiro à guarda da raposa”. 

Perante a estupefação dos restantes ministros e até do próprio Presidente da República, Ricardo D’abreu ainda balbuciou algumas palavras, mas em momento algum se retratou explicitamente.

Todos os ministros saíram da reunião convictos de que Ricardo D’abreu produziria, depois, algum memorando para sustentar a grave ofensa ao colega.

Por despacho de 9 de Abril de 2019 , o Presidente João Lourenço  enterrou as pretensões de Ricardo  D’abreu. 

O ministro dos Transportes já tinha o seu homologo encravado na garganta” antes daquela reunião do Conselho de Ministros. Ricardo D’abreu pusera a circular entre os membros do Executivo um memorando defendendo a reabilitação do aeroporto internacional 4 de Fevereiro por um valor de 600 milhões de dólares. Mas tal memorando não era sustentado por nenhum estudo de viabilidade económica. Consultado, mais uma vez o então ministro das Finanças condicionou a aprovação da proposta   um estudo sobre custos e benefícios de um tal empreendimento uma vez que já está em construção um novo aeroporto internacional, que já consumiu até agora acima de 3 mil milhões. A reabilitação do aeroporto 4 de Fevereiro pelos valores propostos empiricamente pelo ministro tem sido fortemente questionada por técnicos do próprio sector.

Depois de ter sido acusado gratuitamente, Archer Mangueira tomou a menos duras das retaliações: deixou de dirigir palavra ao colega ao ex-colega “kuribota”. Depois do lamentável episódio  quando se cruzavam nos corredores do palácio, onde decorrem as reuniões do CM, ou noutros fóruns, ambos se ignoravam.  O clima entre ambos é de cortar à faca. 

Ricardo e Archer já foram muito chegados, devendo o primeiro ao segundo a sua passagem pelo BPC como presidente do seu Conselho de Administração. Antes, Ricardo foi conselheiro de Archer no Ministério das Finanças. 

Cacauzinho tornou-se arrogante desde que o Presidente da República fez dele sucessivamente seu secretário dos Assuntos Económicos e pouco tempo depois ministro dos Transportes. “Ele não tem conseguido reprimir algumas manifestações de  pedantismo, próprias de quem está deslumbrado com o poder. Ele mudou muito”, resumiu  um amigo.

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