Na terça-feira, 10 de Dezembro, o Presidente da República foi confrontado com um outro dilema: pender para o ministro da Construção e das Obras Públicas ou apostar as fichas todas no director do seu gabinete e outros funcionários da entourage presidencial.
Naquele dia e falando ao “Grande Entrevista”, da Televisão Pública de Angola, o ministro da Construção e Obras Públicas, o ministro da Construção e Obras Públicas negou veementemente qualquer responsabilidade sobre os equívocos e mentiras contidos no discurso sobre o estado da Nação do Presidente João Lourenço do pretérito dia 15 de Outubro.
Nele, João Lourenço disse que o troço da estrada nacional n. 230, que liga Malange a Saurimo já estava completamente reparado. O mesmo se passando com a estrada. nacional n 100, que liga Luanda a Benguela. “Foi reabilitada a EN 230 no troço Lucala/Malanje/Saurimo; (…); reabilitada a EN100 no troço Cabo Ledo-Lobito (…) Foram construídas 887 casas sociais e o novo Comando Provincial da Polícia em Cabinda”, anunciou, triunfante, o Presidente da República.
Quando o Alexandre Cose confrontou o ministro com esses embaraços causados ao PR, Manuel Tavares negou redondamente qualquer responsabilidade.
“Não é o ministro que informa o Presidente quais são os dados; há um relatório escrito e pela importância do relatório eu verifiquei as vezes que foram necessárias e corrigiu-se e o relatório que nós fizemos é o relatório correcto. Ou seja, no nosso relatório consta que nós construímos durante o período de dois anos (2018/19) 887 casas a nível do país, não informamos que construímos 887 casas em Cabinda. Nós informamos que no troço Lucala/Cacuso/Malange/Saurimo ficaram concluídos os troços Lucala/Cacuso/Malange. Não informamos que o troço Lucala/Malange/Saurimo estava concluído. Informamos que na estrada 100 o lote 4 estava concluído. Isto é o que consta no nosso relatório. Daí para frente não sei o que é que aconteceu”.
O entrevistador perguntou ao ministro se admitia que o relatório foi “adornado” na Presidência da República, ao que ele retrucou: “Não sei o que é que aconteceu. Eu nem gostaria de comentar; há n hipóteses. Quando ocorreu esta situação na noite desse mesmo dia foi-nos solicitada uma explicação sobre o que é que se passava e eu por acaso tinha os dados digitalizados e enviei e o meu relatório foi confirmado. Mas às vezes há erros humanos, que são compreensíveis. Mas eu não sei o que é que aconteceu(…) Isso não aconteceu só com o meu sector. Se fosse só com o um sector eu poderia dar-lhe uma explicação técnica, ou seja, a omissão de informação para simplificar pode levar a esses erros. Mas como não aconteceu só com o meu sector é que eu lhe digo que não sei o que aconteceu. Não funciono dentro da Presidência e, portanto, não sei o que aconteceu.”
Perante esse veemente desmentido de Manuel Tavares de Almeida, o Presidente da República tem duas únicas opções: ou acredita no ministro, seu afilhado de casamento, ou tem de pensar que há no seu gabinete gente que altera os relatórios dos seus ministros com um de dois objectivos: ou constrangê-lo ou rasteirar os autores dos documentos remetidos ao palácio.
No caso dos falsos dados fornecidos pelo PR ao que tudo indica os amigos da onça estão mesmo no gabinete do PR.
O Correio Angolense soube de fonte insuspeita que o relatório do Ministério da Construção e Obras Públicos foi efetivamente adulterado. “Alguém lá mesmo o arredondou para cima”.
Aqui não há voltas a dar: o PR não pode encolher os ombros perante uma situação como esta. O que se lhe aconselhe é que mande “desinfestar” imediatamente o seu gabinete de modo a livrá-lo dos amigos da onça que lhe colocam sempre cascas de banana no percurso. E infelizmente para Angola, essas cascas de banana tem levado o PR a estatelar-se com demasiada frequência.