PCA que não faz sombra

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É da sabedoria popular que casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.

Com o ruidoso alarido em torno da nomeação de Rui Mangueira para a presidência do Conselho de Administração do Banco de Fomento Angola (BFA)  passa-se  rigorosamente o mesmo: não têm razão tanto aqueles que contestam a nomeação por considerarem que Rui Mangueira é uma PPE (pessoa politicamente exposta) como aqueles que não reconhecem no récem-nomeado quaisquer valências técnicas para presidir a um banco; afina no mesmo diapasão uma “quinta coluna” que estabelece um link entre a nomeação de Rui Mangueira e a integração de uma filha do PCA da Sonangol no novo Conselho de Administração do BFA.  Uns e outros lavram em erro.

Em primeiro lugar deve ficar claro que os acionistas do BFA escolheram efetivamente o jurista Rui Mangueira para presidir ao seu Conselho de Administração. Mas justamente por ser uma pessoa politicamente exposta, os acionistas do BFA não atribuíram a Rui Mangueira qualquer função executiva. Ao não lhe atribuírem quaisquer funções executivas, os acionistas do banco protegeram a figura de Rui Mangueira, que até recentemente exerceu funções públicas relevantes, e ao mesmo tempo  ergueram em torno da sua instituição uma couraça anti-suspeição.  Dir-se-ia, pois, que um PCA sem funções executivas é uma figura simbólica, cujo maior capital é o seu prestígio e reputação, os quais podem servir para abrir portas e alavancar negócios para a instituição que serve.

Estando distante da gestão quotidiana do banco, a condição de PPE que Rui Mangueira ainda carrega não é susceptível de causar qualquer dano à imagem o banco. Esse é, portanto, um risco descartado. 

O curriculum académico e profissional da Rui Mangueira, também posto em causa pelos contestatários, é algo que os deveria envergonhar. 

Nele, encontramos um Mestrado em Direito Económico Internacional pela University of Warwick, do Reino Unido da Grã Bretanha, que não é exactamente comparável à “nossa” “Universidade do Catambor”, pela qual passaram muitos dos dirigentes que (des)governaram este país; há, também, uma licenciatura em Direito pela Universidade Agostinho  Neto, ela também muitos furos acima da Universidade do Catambor.

 No plano profissional o curriculum  de Rui Mangueira inclui, entre entras, o exercício de funções como Ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, secretário de Estado das Relações Exteriores e embaixador extraordinário e plenipotenciário de Angola em paragens como Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Kuwait, Qatar, Bahrain e Reino Unido da Grã Bretanha.

Não reconhecer num cidadão com esse estofo académico e profissional competência para dirigir simbolicamente um banco é algo verdadeiramente espantoso. Acaso, uma função eminentemente simbólica como aquele que Rui Mangueira tem no BFA deve ser, necessariamente, desempenhada por um bancário de carreira?

Em Filosofia e noutras ciências aprende-se que quando a premissa é errada o resultado será forçosamente errado.

Ignorar, deliberadamente, que ao PCA não executivo do BFA é vedada a ingerência na gestão quotidiana do banco é mais do que meio caminho andado para o ruidoso e injustificado alarido que se ouve por aí.

Os acionista do BFA confiaram a gestão efectiva do banco a uma Comissão Executiva, liderada por Manuel Silveira Catana.

Tudo o resto em torno da nomeação de Rui Mangueira faz parte de um cada vez mais enraizada cultura do ciúme, da intriga e do falar de ouvir dizer.

Finalmente, deve ficar claro que na condição de PCA não executivo, Rui Mangueira não vai admitir ninguém, não vai despedir ninguém, em suma, não vai fazer sombra a ninguém.

Se, apesar do simbolismo do seu cargo,  Rui Mangueira conseguir  convencer, pela persuasão e conselhos,  os administradores executivos do banco a dedicarem maior atenção e carinho aos empreendedores angolanos, coisa que a anterior administração executiva, liderada por Mário Leite, braço direito de Isabel dos Santos em todos os negócios e negociatas não fazia, já terá valido a pena a sua nomeação.