Angola esconde o jogo sobre o coronavírus

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Segunda-feira, 02 de Março, desembarcou em Luanda um romeno suspeito de transportar ao vírus. Ele era proveniente da Itália, um dos países mais devastados pela doença

As autoridades angolanas podem estar a esconder um ou mais casos de coronavírus registados no país.
Uma fonte do Ministério da Saúde, que pediu para não ser identificada, disse ao Correio Angolense existirem, já, casos que sugerem a entrada no país do perigoso vírus.
Segundo essa fonte, o mais recente caso ocorreu na última segunda-feira, 02, e é seu protagonista um cidadão romeno que naquele dia desembarcou no aeroporto internacional 4 de Fevereiro. Habitualmente residente em Luanda, o romeno desembarcou naquele dia na capital do país proveniente da Itália, onde fora celebrar o carnaval. A Itália é um dos países mais devastado pela doença.
A fonte do Correio Angolense não soube dizer por que países o romeno transitou até chegar a Angola, uma vez que não há ligações aéreas directas entre o nosso país e a Itália. “As autoridades estão a investigar a companhia aérea que o trouxe a Luanda para rastrearem o trajecto feito pelo romeno”. Quando solicitado sobre se poderia identificar o nome da companhia que teria transportado esse passageiro, a fonte do Correio Angolense foi enfática: “Ainda não é prudente revelarmos o nome da companhia. Como deve calcular, uma tal revelação teria impactos muito grandes sobre a companhia, afectando sobremaneira as suas operações. Não havendo, neste momento, provas conclusivas de que o cidadão romeno efectivamente é portador do vírus não é prudente color qualquer anátema sobre a companhia aérea”.
Seja como for, aponta a mesma fonte, já são vários os indícios de que as autoridades angolanas estão a ocultar alguma coisa.
Na mesma segunda-feira em que desembarcou o romeno suspeito de ser portador do novo corona vírus, as autoridades reforçaram os meios humanos colocados no aeroporto internacional 4 de Fevereiro para vigiar a entrada de passageiros vindos do exterior, sobretudo de países onde o vírus se manifesta cada vez mais.
As autoridades angolanas lidam com o novo corona vírus como se de um alto segredo de estado se tratasse. “Posso lhe garantir que apesar de múltiplas suspeitas da entrada do vírus em Angola, a informação respeitante a este assunto é gerida com pinças. No Ministério da Saúde, só a ministra Sílvia Lutukuta e uns quatro ou cinco quadros seniores sabem efectivamente a quantas vamos neste assunto”, acrescentou a fonte do Correio Angolense.
Angola não tem capacidade laboratorial para doenças da estirpe do novo coronavírus. Quando em presença de casos suspeitos, as autoridades nacionais colectam amostras e enviam-nas à África do Sul para as competentes análises laboratoriais. Grosso modo, o feedback é dado em dois ou três dias no máximo. Por isso, a fonte do Correio Angolense estranha que uma semana depois do regresso do romeno suspeito de ser portador do corona vírus as autoridades ainda não tenham feito luz sobre o assunto. ‘O nosso problema é que as autoridades angolanas tratam os cidadãos como seres menores incapazes de lidar com informação sensível. Há sectores que estão convencidos que o corona vírus só deve ser tratado lá em cima, onde o acesso à informação é limitado a um restrito grupo de pessoas. O reverso da medalha é que quanto menos os cidadãos estiverem informados, menos preparados estarão para lidar com a doença. A solução não é esconder o jogo, é abri-lo para que os cidadãos tomem as devidas providências. De nada adianta esconder os dados com o medo de que a sua revelação possa perturbar o país. O país não estará pior se os cidadãos souberem que já convivemos com o corona vírus. Pior estará, sim, se os cidadãos continuarem afastados de informações que são cruciais para a sua própria auto-protecção”.
As autoridades angolanas criaram dois centros de quarentena para atender pessoas suspeitas de terem sido tomadas pelo corona vírus. A semana passada, o Novo Jornal disse ter sido informado por uma fonte credível que o país tem custos diários de 30 milhões de kwanzas para sustentar os dois centros de quarentena, situados em Calumbo (Viana) e Barra do Kwanza (Bengo).
A 28 de fevereiro último o ministério da Saúde, através do despacho n.º 75, proibiu a entrada em Angola, a partir do dia 3 de Março de 2020, de estrangeiros provenientes dos países com casos autóctones de COVID-19, designadamente Argélia, China, Coreia do Sul, Egipto, Irão, Itália e Nigéria.
O documento, baseado no Regulamento Sanitário Internacional e no Estatuto Orgânico do ministério da Saúde, refere ainda que “as companhias aéreas que violem o presente instrutivo serão responsabilizadas pelo repatriamento imediato dos referidos viajantes, assumindo os encargos inerentes”.
Na última semana, uma agência portuguesa de viagens transmitiu aos seus clientes de modo informal que “todos os passageiros que derem entrada em Angola, a partir de amanhã [quinta-feira, 5 de Março de 2020] à chegada ao aeroporto, independentemente do país de origem, serão reencaminhados de autocarro para um local onde será feito o despiste do COVID-19”.
A nota acrescenta que “este procedimento pode demorar entre meio dia até um dia” e “em caso de suspeita de infeção os passageiros não darão entrada em território Angolano e serão encaminhados de volta ao país de origem”. Ainda de acordo com a agência, “o alerta foi dado para recomendar que todos os passageiros estejam prevenidos com snacks e água, dado o elevado tempo de espera”.