QUO VADIS ANGOLA? (*)

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QUO VADIS ANGOLA? Pergunta que qualquer angolano, com mínimo de atenção, coerência bom senso e discernimento tem a obrigação de fazer: estamos a ir aonde? Porque nós como Povo estamos iguais a uma pacaça ferida e uma pacaça ferida desconfia de tudo e de todos e se existe uma nova tripulação com vontade  de pegar neste navio e levar para bom  porto então o diálogo connosco não pode vir mais com arrogância, sabes quem sou eu, ordens superiores, eu sou chefe. Não! Não! Porque foram esses maus hábitos que nos trouxeram até aqui no fundo dessa fossa onde nós estamos. Então daqui p`ra frente, o diálogo tem que ser mais diferente:

o mais importante não é resolver os problemas do povo; o mais importante é resolver os problemas com o povo, incluir o povo no plano de governação; escutar o choro do povo, saber se esse povo quer o quê.

Vou dirigir o povo, tenho que saber se o povo quer quê, precisa de quê para estar bem. O povo angolano está cansado de correr de um lado para outro, de procurar um lugar ao Sol, quando ele tem uma terra boa, uma terra terra. Ele tem que viver a paz dentro da sua terra, dentro do seu espaço. Um povo que não tem luz, que não tem água, que não tem saúde, que não tem educação, que não tem emprego, que não tem justiça, que não tem pão à mesa é um povo que não tem paz. E nós temos plena consciência que a corrupção em Angola tem dizimado mais gente que todas aquelas guerras que passaram por aí e que nós nos unimos e combatemos juntos. Mas tem um lado bom nesta história porque a corrupção em Angola não é abstracta. A corrupção em Angola tem nome, tem rosto, tem endereço e todos nós conhecemos e todos nós sabemos. Não é se fingir aqui ah porque está a procurar nos papéis, não! Nós todos sabemos: a corrupção é aberta. Porque é tipo a história do Ali Baba e os 40 ladrões.

O Ali Baba saiu da cena, mas os 40 ladrões ficaram e você vai vir tentar me convencer que os 40 ladrões da noite para o dia viraram gente do bem? Não posso acreditar. Quem não foi patriota ontem não será patriota hoje. É para esquecer, mano.


Por mais boa vontade que exista em se desenhar e traçar novos rumos, promissores, não há outra saída, não há outra saída: se este navio quiser chegar mesmo lá no ponto do progresso, o primeiro aspecto que tem que ser alcançado é combater a corrupção.
É impossível combater a corrupção quando os líderes desse mesmo cancro encontram-se nos lugares chaves do aparelho do Estado. Aí é a mesma coisa que você me dizer que vamos apagar o fogo com gasolina; não se apaga fogo com gasolina, É para esquecer mano. Se quisermos andar de facto, temos que enjeitar sangue novo. Mas é valorizarmos o aspecto de sermos várias etnias que formam um só Povo. Esse um só Povo é que tem que construir uma só Nação. Porque para problemas locais não existem soluções externas; não há nenhum pula que vai vir aqui nos ajudar. Não é possível, é esquecer. Temos que pegar angolanos de Cabinda ao Cunene e inserir; colocar a bumbar juntos. Mas gente comprometida, não é estes miúdos que estão aí preocupados com carros, com fatos, com gravatas, com mboas, preocupados em falar português que o povo não entende, não estes não queremos mais. Queremos gente que entenda a língua do povo, que fala com o povo, que senta com o povo, que entra com o povo na lama, que tem que ir lá. Essa é a nossa saída: colocar o angolano em primeiro lugar, segundo, terceiro, quarto, quinto, sexto. O angolano tem que ser prioridade da governação; uma governação de angolanos, voltada para angolanos para o florescimento de Angola. E nós povo vamos cumprir os nossos deveres. Não esqueça cumprir os deveres, mas exigir os direitos”.

(*) Transcrição de uma comunicação de Dog Morras disponível no seu site. Tudo se encaminhava para que o cantor passasse a apresentar o programa Fala Angola, da TV Zimbo. Inexplicavelmente e depois de muitas idas e vindas, esta semana  a estação televisiva apagou o popular programa da sua grelha. Aos telespectadores, a direcção da TV Zimbo não deu o mais leve esclarecimento. Como é prática nos países em que o cidadão é tratado com todo o desprezo possível.