VAGA DE INSULTOS

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Provavelmente entediados com a passividade dos angolanos ante ao completo descalabro do país, alguns titulares de cargos públicos aderiram, agora, a uma nova modalidade olímpica: o revezamento nos insultos e provocações aos cidadãos.

A nova modalidade pode ter como propósito sacudir um pouco o torpor que subjuga os angolanos, despertando-os para a necessidade de lutarem por um país decente.

Aparentemente, a nova modalidade tem enorme aderência. 

A semana passada, falamos aqui neste portal da destemperada resposta do governador de Malange à pergunta de um eleitor sobre o que ele fez nos 10 anos que dirige a província.

Como nos lembramos, Kwata Kanawa respondeu com uma carrada de insultos a um pergunta trivial em regimes democráticos – que é aquele que o MPLA, de que KK é dirigente de proa, diz já existir em Angola.

José Massano, o novo aderente da modalidade

Mas, pelos vistos, na “democracia” de Kwata Kanawa, eleitor que questiona o eleito não tem cabeça própria; é boca de aluguer. Registamos. 

Duas semanas antes, foram retransmitidas nas redes sociais e em algumas rádios comerciais declarações de Job Capapinha, em que aquele que era suposto ser, também, o governador do Cuanza Sul afinal é, apenas e somente, um activista do MPLA. É assim que ele se assumiu e nessas declarações Job Capapinha não mostrou qualquer preocupação de dar maior atenção às funções públicas em que foi investido no Cuanza Sul. 

Quando lhe apetece – e isso acontece frequentes vezes – através dos benguelenses, que governa, Rui Falcão também despeja a sua “bílis” sobre os angolanos, algo que se manifesta em reiteradas declarações que mal disfarçam o ser prepotente e arrogante que está por detrás. 

Também tomados por prefeitos idiomas, os filhos do Moxico ouviram há dias o governador Gonçalves Muandumba dizer-lhes que o seu hospital provincial está entre os melhores do mundo. Muandumba não precisou de dize-lo, mas infere-se que o seu hospital ombreia com com as norte-americanas Mayo Clinic e Clevelend Clinic (redes de hospitais), a alemã Charité ou o canadiano Toronto Gneral Hospital. Quem estava ao seu lado, garante que a cara de Gonçalves Muandumba não denunciou qualquer constrangimento ao dizer tal monstruosidade.

Se não corou de vergonha é porque o governador do Moxico está plenamente convencido (e disso certamente deu ao conta ao seu superior em Luanda) que tem entre os seus domínios um dos melhores hospitais do mundo. Ali mesmo onde operações cirúrgicas são feitas com recurso a berbequim de carpinteiro, como revelou esta semana o Maka Angola.

Insulto de pouca relevância, mas insulto, os angolanos descobriram há pouco mais de duas semanas que no lugar de um ministro do Comércio e Indústria, preocupado em dinamizar as trocas comerciais e fomentar a indústria, para a diversificação da economia, os angolanos ganharam um médico  endocrinologista, mais preocupado com o que devem comer ao mata-bicho.  

Os angolanos ainda procuravam perceber as causas da sucessiva vaga de insultos e provocações vindas de titulares de cargos públicos quando um José Massano Júnior, com a arrogância própria de alguns dos nossos gestores, lhes atirou à cara que não vão aos bancos por incivilidade e comodidade. Estivessem eles (angolanos) habituados a frequentar ambientes em que todos trajam fatos e estivessem eles acostumados a procedimentos formais, como o preenchimento de formulários, teriam, todos, acesso a divisas nos balcões dos bancos comerciais. Em suma, só compra divisas na rua quem é hostil a fatos e à burocracia.

Portanto, mais uma “galheta” no nosso focinho.

Estranhamente, ou talvez não, o Presidente da República reage a todos esses insultos ao seu povo com o mais ruidoso silêncio.  

Algum dia, os antropólogos, sociólogos, psicólogos e outros estudiosos das ciências sociais deste país haverão de explicar as causas do aumento do número de servidores públicos que tomam os angolanos não como seus concidadãos, mas como um bando de idiotas que não cultiva o mais leve amor por si próprio. E é muito provável que eles venham a cobrir de razão aqueles que hoje insultam os angolanos. 

Na verdade, não é despropositado tomar como idiotas os homens que reagem com resignação e indiferença a toda a sorte de humilhações.