Os santos da casa e a água para Luanda

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Tem suscitado interesse ou, no mínimo, curiosidade a iniciativa de dois engenheiros angolanos para a criação de um rio artificial.

Os engenheiros Francisco dos  Santos e António Venâncio abalançaram-se numa empreitada que tem por fim melhorar o fornecimento de água à cidade capital do país, uma incumbência que a EPAL, Ministério da Energia e Águas, Governo Provincial de Luanda e outras instituições públicas não têm conseguido levar a bom porto. Dir-se-ia mesmo que a essas instituições tem faltado capacidade para dar solução a uma das maiores e mais graves carências de Luanda.

O fornecimento de água potável aos citadinos está entre os principais deficits das autoridades.

Em vários e diferentes “palcos”,  Francisco dos Santos e António Venâncio, no pleno exercício da sua cidadania, têm apresentado alternativas à crónica escassez de água. A criação artificial de um rio, a que chamam Luanda, é a proposta concreta que os dois engenheiros apresentam.

Engenheiro António Venâncio, um dos “progenitores” da ideia de criação artificial de um rio que atravessaria a cidade de Luanda  “de Cabinda ao Cunene”

Nas redes sociais, a juventude segue com atenção e entusiasmo a iniciativa dos dois engenheiros, à qual, aliás, já se juntaram outras pessoas com saberes nas áreas de Engenharias e outras.

Num recente debate feito pela Televisão Pública de Angola, os proponentes do Rio Luanda suplantaram, claramente, o cepticismo e a falta de confiança dos representantes da EPAL e do Ministério da Energia e Águas. Tecnicamente, os representantes das duas instituições públicas saíram do debate completamente “bofocados”, que o mesmo é dizer derrotados.

Era suposto que a frequência com que o assunto é abordado quer nas redes sociais quanto na própria comunicação social tradicional, bem como o background dos dois proponentes tivessem suscitado, no mínimo, não necessariamente o interesse, mas pelo menos a curiosidade de detentores de cargos públicos que têm palavra no fornecimento de água à Luanda.

A revelação hoje feita por António Venâncio de que, até hoje, nenhum titular de qualquer departamento ministerial mostrou interesse na iniciativa é, no mínimo, chocante.

Aos titulares dos departamentos ministeriais e, nomeadamente àqueles que tem por dever prover água potável a Luanda, não se exige que se rendam, incondicionalmente, à iniciativa encabeçada pelos dois engenheiros angolanos. Mas ouvi-los é o mínimo que se exige a essas entidades.  Mesmo porque não sobra a menor dúvida que, se a proposta de criação artificial do Rio Luanda partisse de uma qualquer Odebrechet, Dar AL-Handasah, ou de qualquer empresa estrangeira, nas quais têm interesses, os governantes angolanos por certo que se acotovelariam para ouvi-las. 

Governantes angolanos já encheram auditórios para ouvir baboseiras e vigarices ditas por estrangeiros. 

O Presidente João Lourenço alardeia frequentemente a abertura dos seus ouvidos à sociedade. 

Sendo homem atento aos dizeres e fazeres da sociedade, como diz, João Lourenço já deveria ter chamado algum ou os seus auxiliares para lhe darem pormenores sobre a iniciativa dos dois engenheiros angolanos. 

Os auxiliares do Presidente da República se acotovelariam em pedidos de audiência a Francisco dos Santos e António Venâncio se tivessem percebido no seu chefe algum interesse em saber pormenores sobre a criação do Rio de Luanda.

Feitas as contas, Francisco dos Santos e António Venâncio são angolanos, descendentes de famílias humildes e a ambos parece aplicar-se bem a máxima segundo a qual “santos da casa não fazem milagres”.

Os detentores de pastas ministeriais a quem a iniciativa de Francisco dos Santos e António Venâncio deveria dizer alguma coisa desdenham-na ou porque se presumem detentores de todo o saber ou porque não vislumbram chances de coleccionar mais algumas comissões. 

Seja como for, os governantes angolanos deveriam saber que ouvir e saber ouvir não revelam, apenas, boa educação. Revelam também cultura.

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