Imagens partilhadas nas redes sociais a respeito da participação do Presidente da República numa cimeira virtual da SADC, realizada a semana passada, colocam muitas questões em relação à forma como as autoridades angolanas lidam com imperativos ligados a eventos dessa natureza.
A ocorrência de reuniões virtuais, abreviada pela eclosão da COVID-19, trouxe mudanças que vieram para ficar.
Doravante, será assim em Angola, nos EUA, na China, ou noutro país qualquer. Não há voltar a dar.
Uma das mudanças que as reuniões virtuais provocaram tem a ver com a significativa redução de meios humanos e técnicos.

Em circunstâncias normais, para as deslocações do Presidente da República visando participar em fóruns da SADC e ou de outra natureza são mobilizados um avião para ele e outro para a “camarilha” que o acompanha.
A outra alteração, também “imposta” pela COVID-19 está ligada à fiabilidade e segurança dos meios técnicos necessários para as reuniões virtuais.
A esse respeito não parece subsistir a menor dúvida em como as autoridades sabem às quantas anda. A rede de telecomunicações usadas para servir o Presidente nas reuniões presenciais sempre esteve bem protegida. Provavelmente melhor do que o satélite que desapareceu há dois anos.
A participação do Presidente da República numa conversa virtual, particularmente em circunstâncias que exijam confidencialidade absoluta, impõe cuidados acrescidos. Hoje, com milhares de adolescentes capazes de sequestrarem contas ou páginas na Internet, todo o cuidado é pouco.
A relutância de Donald Trump em relação à rede chinesa Tik Tok não é apenas birra de político em campanha pela reeleição. Aliás, pelas mesmas razões, os Estados Unidos mantêm reservas em relação à Huwai e à Zoom, a plataforma que mais cresceu com o confinamento imposto pela COVID-19.
O que ficou à vista de todos é que a participação do Presidente João Lourenço seguiu um paradigma que não se compadece com os dias de hoje: a sala a que se fez recurso para a participação na cimeira indica, claramente, que, por um lado, não há no palácio qualquer coisa como uma “sala de transmissões, e, por outro, que ao fazer uso de um dos salões do palácio, Angola mostrou que continua a confundir ciência, e eficiência com “tamanho” e opulência.

Outros presidentes, como os da Zâmbia, Malawi e Zimbabwe, agiram da mesma maneira. Mas desses, cuidam os seus cidadãos.
Um zoom à fotografia mostra como para aquela reunião, no que parece ser um salão nobre, foi preciso estender cabos, fichas triplas, monitores, mesas, cadeiras toalhas e afins.
Mesmo concedendo que o Presidente da República teria que estar acompanhado, não era necessário aquele aparato. O ministro das Relações Exteriores, intérprete e pouco mais seriam suficientes.
A falta de adequação dos serviços de apoio ao Presidente da República ao agora chamado novo normal mostra que a cada vez que um chefe de Estado estrangeiro quiser se comunicar com João Lourenço por via de uma vídeo conferência lá teremos novamente o staff de João Lourenço a arrastar e a deixar cabos ali ao leu, como se de casebre se tratasse.
A fotografia que mostra como se faz isso na África do Sul, na verdade mostra como se fazem estas coisas em todo o mundo.