Negócio do mel comprometido no Moxico por empresas madeireiras chinesas

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O mel é a principal fonte de renda de milhares de famílias na província do Moxico, mas nos últimos tempos registou-se um abaixamento drástico da produção, em virtude da acção de empresas madeireiras chinesas. As abelhas estão a migrar e consigo “levam” o sustento de muitas pessoas que podem voltar a engrossar as estatísticas dos angolanos que vivem abaixo do nível da pobreza!    

Várias famílias na província do Moxico que vivem da apicultura têm visto os seus rendimentos cair drasticamente nos últimos tempos, devido à acção de empresas madeireiras chinesas. A informação foi prestada recentemente ao Correio Angolense por fontes diversas no Lwena, capital da maior província de Angola.

De acordo com as nossas fontes, o desmatamento contínuo de consideráveis parcelas de terra por empresas chinesas de exploração de madeira está a influenciar negativamente na reprodução das abelhas, o que condiciona o nascimento de novos espécimes. Um produtor artesanal de mel da comuna de Kangumbe, município do Moxico, lamenta que as abelhas estejam a emigrar para áreas cada vez mais distantes.

O nosso interlocutor, que não quis ser identificado, disse que a acção das madeireiras está a prejudicar gravemente o negócio da apicultura e a causar danos sérios ao ambiente. “As abelhas formam colónias e constroem colmeias em árvores e não no vazio. Não havendo árvores ou outro tipo de vegetação, é natural que as abelhas migrem em busca de habitats mais favoráveis”, disse o homem que se deslocara ao mercado da Baúca, no Lwena, a fim de comercializar o produto coletado durante uma semana de trabalho.

Para a nossa fonte, a falta de chuva é outro problema associado à exploração desenfreada de madeira na província do Moxico. “Nos últimos anos não tem chovido com a mesma intensidade e regularidade de outros tempos. Isto também interfere no processo de procriação das abelhas e concomitantemente na produção de mel. A continuar assim, muitas famílias que vivem da comercialização do conhecerão dificuldades sérias e no futuro arriscamos a ter sérios problemas ambientais”, augurou.

Virgílio Kasanje também comercializa mel no mercado da Baúca, no Lwena. Uma vez por semana demanda o maior mercado da província para revender o mel que compra de apicultores artesanais na sua Lukuse natal. “Há cada vez mais escassez de mel e a consequência imediata é a subida do preço. Hoje estamos a vender o litro a 1.500 Kwanzas, quando há uns meses fazíamo-lo a 1.000 Kwanzas”, explica para depois acrescentar que “estamos a ter cada vez menos rendimentos por causa do deslocamento das abelhas para outros pontos mais distantes”.

Fonte do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente disse ao Correio Angolense que o Governo da Província está de mãos atadas, nada podendo fazer porque as madeireiras são licenciadas pelo Ministério da Agricultura, sem consulta prévia da governação local e nem do departamento governamental que cuida do Ambiente. “Sabemos que a exploração de madeira está a atingir níveis insustentáveis, mas, estranhamente, a maior parte das empresas a actuar no Moxico estão legalmente autorizadas”, disse sob anonimato o nosso interlocutor.

“É igualmente largo o número de empresas ou gangues chineses a explorar ilegalmente madeira no Moxico. Mas não temos meios tecnológicos e humanos para cobrir toda a extensão da província, que é, por exemplo, maior que todo o Portugal continental e insular”, lamentou. Além das comunas de Kangumbe e Lukuse, no município do Moxico, a província regista igualmente produção de mel artesanal em apreciável escala nas comunas de Kazombo, Makondo e Kalunda, no município Alto Zambeze.

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