A “Missão Impossível” do Teixeira

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O MPLA mostra uma serenidade e tranquilidade que não tem.

A recusa de membros do Secretariado do Bureau Político do MPLA de passar em revista o momento político actual esconde uma calma inexistente. 

Atordoado pelos efeitos da grande lostra que deu a si próprio, o MPLA perdeu de vista os seus adversários e deu-lhe, agora, de ver inimigos figadais em alguns jornalistas, sobretudo os que gozam de irreprimível reputação. 

Há pouco mais de uma semana, alguém, convenientemente coberto pelo anonimato, postou no Facebook, isto: “Para o advogado da UNITA e Jornalista Graça Campos, sabe-se que para uma boa Advocacia, o defensor tem de estar distante dos conteúdos populistas ou do” disse que disse”. Apuram-se os factos e aplicam-se as metodologias, tal como a ciência é honesta e nos recomenda. Esta mania de sermos advogados não diplomados, compromete uma carreira que o tempo não o agraciou de boas oportunidades. E, como a oportunidade faz o ladrão, creio que seja por técnicas mercenárias e mercantis com o objectivo  de apanhar algumas  migalhas/euros vindos das terras do seu cliente, dinheiro obtido em situação de fraude internacional (já que não houve declaração às autoridades portuguesa), situação que pricipitou  com que o senhor Advogado e Jornalista das redes sociais, tivesse que vir em defesa do seu instruendo  que  nada mais é do que gente sem destino”.

Como o português em que é feita a acusação é sofrível, um internauta não demorou a suspeitar da autoria do apócrifo escrito. “Kota, tenho quase a certeza que isso é da ‘lavra’ daquela ‘dona’. Aquela ‘dona que se diz daqui, mas também é de lá”. Deixo ao leitor o exercício de adivinhação.

Poucos antes do grande acontecimento da semana, que foi, indiscutivelmente, a cimeira tripartida que reuniu quinta-feira os três mais emblemáticos líderes da oposição, para conferir “maior ímpeto à luta dos angolanos para a democratização real do País e para uma efectiva cultura política que respeite a vida, a dignidade dos angolanos, a Constituição e a lei”, face ao que consideram “reiteradas injustiças e à clara regressão do processo democrático protagonizada pelo partido do governo”, a milícia digital do MPLA e suas desarticuladas carruagens pôs-se em campo, não para alvejar o verdadeiro adversário – porque disso elas são incapazes –  mas para ferir reputações alheias e lançar suspeição sobre jornalistas escolhidos. 

De acordo com um dossier elaborado por essa milícia, a direcção da UNITA teria “preparado um especialista da Brinde para fazer a cabeça do secretário do Sindicato dos Jornalistas Angolanos ,Teixeira Cândido, para sensibilizar os jornalistas. Constam da lista nomes como Graça Campos, Reginaldo Silva, Ismael Mateus, Rafael Marques, Drumont Jaime, etc., profissionais que gozam de simpatia nas redes sociais”.

Nos seus delírios, estranhamente feitos à luz do dia, essa milícia atribui, ainda, ao jovem secretário geral do SJA a missão de “fazer a cabeça” a outras “figuras públicas e jovens com grande intervenção social”. 

Ora, nem nos seus mais ambiciosos sonhos, o líder da UNITA alguma vez congeminaria ter a seu serviço um “dream team” com essa composição. 

Dir-se-ia, por isso, que a milícia digital do MPLA está a atribuir a Teixeira Cândido o que o realizar norte-americano Brian De Palma designaria também como Missão Impossível. 

Mais por limitações intelectuais e desespero do que razões de outra natureza, a actual direcção do MPLA parece dar muito crédito à sua lunática milícia. Por isso é que, traído pelas “lentes embaciadas” o MPLA vê em alguns jornalistas inimigos e encontra neles as causas para os seus sucessivos revezes.  

A verdade é que essa gente não tem serventia nenhuma nem para o MPLA e menos ainda para o país.

Lemos e relemos o lixo que despeja nas redes sociais e não encontramos nele uma única ideia, um único projecto que ajude a tirar o país do  pântano em que se encontra. 

A essa gentalha interessa, apenas, que todos os angolanos, sem excepção, se ajoelhem aos ditames do MPLA; que todos, sem excepção, adoptem os lugares comuns de João Lourenço como documentos de estudo nas suas células.

Dessa falta de ideias resulta o país em que nos transformamos hoje. Um país sem eira nem beira, em que, por exemplo, as nomeações de governantes e de dirigentes de empresas estratégicas obedecem a um único critério: a acomodação de familiares, amigos e afins e as exonerações dependem dos caprichos de quem tem a caneta decisiva. 

Pergunte-se ao cidadão comum se entendeu  as razões por detrás da demissão de Marcolino Moco, do Conselho de Administração da Sonangol, do qual era figura decorativa; face à ausência de qualquer explicação, é lícito ou não que o cidadão vincule a inesperada defenestração de Moco às suas recentes declarações a respeito do comunicado do Bureau Político do MPLA? O antigo secretário-geral do MPLA  classificou o comunicado como “bullying racista e xenófobo” à volta do líder da UNITA, É essa a cauda da demissão?

 Pergunte-se ao cidadão comum a lógica que sustenta a nomeação de Bernarda Martins para o posto de administradora não executiva da Sonangol. Nos longos anos que ficou à testa do Ministério da Indústria, a senhora Bernarda não acumulou o suficiente para ter uma reforma tranquila? No horizonte de João Lourenço não há outros  angolanos  mais competentes   materiais do que a ex-ministra? 

Por outro lado, havendo, já, tanto angolano que se formou em Relações Internacionais, e tendo o país já uma mão cheia de especialistas em Petróleo – não podemos perder de vista que Ryad é uma peça importantíssima na OPEP – por que razão o Presidente da República foi recuperar um escritor mediano como Frederico Cardoso para primeiro embaixador residente na Arábia Saudita? E, já agora, por que razão João Lourenço não aproveitou a oportunidade para explicar a razão por que se desembaraçou do seu antigo chefe da Casa Civil?  

Há um ano, a estação televisiva lusa TVI anunciou uma reportagem em que escancararia negócios supostamente escusos envolvendo três dignitários angolanos, um dos quais Frederico Cardoso, ao tempo chefe da Casa Civil, e sua esposa.

 A reportagem, que acabou por não ser exibida, aludiria, também, a Marketpoll, uma empresa supostamente detida por Paulina Cardoso, esposa de Frederico, a qual teria recebido, em 2017,  4 milhões de euros  pela prestação de serviços de “pesquisas qualitativas e quantitativas” ao MPLA. Além da mulher de Frederico,  a Marketpoll teria uma outra sócia, Telma Tiago, cara-metade de Adriano Botelho de Vasconcelos, escritor e um dos melhores amigos do Presidente João Lourenço.

Se a exoneração de Frederico Cardoso, da chefia da Casa Civil, teve a ver com essas denúncias, não faz qualquer sentido a sua repescagem. As autoridades angolanas nunca deram por esclarecidas as denúncias. 

Sendo certo que precisa de justificar os generosos trocados que recebe do GAPI e da sede do MPLA, a milícia digital dos “camaradas” precisa, contudo e quanto antes, de corrigir o tiro. Não é nos jornalistas que radicam as causas dos fracassos governativos. A fome, a nudez, as desigualdades sociais, as injustiças sociais não são criações de jornalistas.

Rotular, como acontece amiúde, este escravo de alcoólatra  ou mercenário não vai subir a nota do MPLA junto dos angolanos.

Desembaciem as lentes e olhem o país com olhos de ver. 

Como diz a sabedoria popular, o buraco está mais acima.

Nós, os jornalistas, somos verdadeiros sádicos: por mais que constatemos que ”fake news” e outras fantasias criadas e plantadas pelas milícias digitais não têm uma ponta por onde se lhes pegue, contudo, não resistimos em dissemina-las nas redes sociais.