O país ainda está sob o trauma provocado pelo Tribunal Constitucional, que, a coberto de várias artimanhas, mais políticas do que jurídicas, esteve – há quem diga que ainda não desistiu – muito próximo de amputar o próximo pleito eleitoral de um dos seus principais animadores, a UNITA.
É ainda sob esse misto de trauma e de incredulidade que o General Pereira Furtado, chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, vem introduzir no cenário um elemento profundamente perturbador: a existência, no país, de partidos que tencionariam criar clima de intimidação e insegurança.
Um experimentado cabo de guerra, cujo curriculum inclui o prestigioso posto de Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas (2006/2010), o General Furtado não pode prestar-se a papeis geralmente destinados a moços de recado.
A denúncia que fez carece de fundamentação.
Não basta que o chefe da Casa de Segurança do Presidente da República tenha partilhado com o seu superior hierárquico as eventuais evidências da existência de partidos políticos que estariam a criar um “clima de intimidação, insegurança e terror no seio das populações, antes da convocação das eleições”.
O chefe da Casa de Segurança do Presidente da República deveria, também, ser chamado à Assembleia Nacional para partilhar com os deputados e, por via deles, com os cidadãos angolanos, a perturbadora informação.
É direito dos angolanos saberem os riscos e perigos que correm e os rostos de quem os está a causar.
Numa cerimónia em que era suposto ater-se, apenas, ao percurso de 30 anos das FAA, o General Furtado entendeu ir mais longe, invadindo áreas que não caem na sua alçada, nem como chefe da Casa de Segurança do Presidente da República e, menos ainda, como coordenador da Comissão Multissectorial de Combata à Pandemia da Covid-19.
Ao afirmar que ao levantarem suspeições de fraude, partidos criam “um clima de intimidação, insegurança e terror no seio das populações, antes da convocação das eleições”, o General Furtado obriga-se a dois deveres: identificar esses partidos e explicar aos angolanos por que razão mistura no mesmo saco a reivindicação de eleições justas e transparentes e a criação de um clima de intimidação e terror.
É, também, obrigação do General Furtado dar identidade aos “falsos activistas que, a todo o custo, querem chegar ao poder por via da desordem, desobediência e actos de intolerância política”.
Também é obrigação do General Furtado informar o país das diligências que fez após tomar ciência da existência dos “falsos activistas que, a todo o custo, querem chegar ao poder por via da desordem, desobediência e actos de intolerância política”.
Em países menos condescendentes com a bandalheira, onde há uma clara divisão de águas, no dia seguinte àquelas incendiárias declarações o General Furtado já não acordaria como chefe da Casa de Segurança do Presidente da República.
O General Pereira Furtado não pode usar o elevado cargo que ocupa para fazer politiquice.
Se o chefe da Casa de Segurança do Presidente da República está fascinado pela política, sobretudo pela sua faceta menos nobre, que é a da politiquice, nada o impede de exercer esse fascínio. Só é necessário que pendure definitivamente a farda e se inscreva num qualquer Comité de Acção do partido que tem no coração.
Servir-se de uma marcante efeméride das FAA para fazer política não casa com as atribuições do chefe da Casa de Segurança do Presidente da República.
Para moços de recado, o Governo e o MPLA têm um extenso campo de escolha.
Os 43 anos de carreira militar do General Francisco Pereira Furtado não merecem esse desfecho.