Quando a inteligência cede à cegueira
(ou o manual do fortalecimento do inimigo)

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1.   Nos 45 dias de cerco militar ao Luena 1 de Abril a 15 de Maio de 1991), se as tropas da UNITA tivessem deixado uma “aberta”, provavelmente as poucas unidades das FAPLA que protegiam a cidade teriam se retirado. Era imensa a desproporção  de meios humanos e materiais. 

Porém, obcecado pela ideia de ir às negociações de Bicesse com, pelo menos, o controlo de uma capital provincial, Savimbi esticou a corda, até que rebentou.

Dois dias antes do acordo de cessar fogo entre as forças da UNITA e o Governo, unidades militares das FAPLA entraram triunfalmente na cidade do Luena e só não esmagaram toda a direcção militar da UNITA porque o então Comandante-em-Chefe, José Eduardo dos Santos, ordenou que as vidas de Ben Ben, Chilunguitila, Numa e outros fossem poupadas.

2.  Em 1994, as forças militares da UNITA teriam tomado a cidade do Kuito, Bié, se elas tivessem permitido um corredor por onde as unidades das FAA e a população se escapulissem. Dominado pelo ódio, Savimbi, ordenou que todas as portas de entrada e saída da capital biena fossem hermeticamente fechadas. Encurraladas, as unidades das FAA, Polícia e a população lutaram até à última gota de suor. 

3.  Em 1998, com maior ou menor dificuldade, a UNITA teria tomado a cidade de Malange se as suas tropas tivessem permitido uma rota de fuga às unidades das FAA e à população. Dominado pelo ódio que nutria pelos malanjinos, Savimbi ordenou que as suas tropas fechassem com sete chaves todas as entradas e saídas. Sem alternativas, FAA e população lutaram até que as forças atacantes ficaram completamente extenuadas.

4.  Em 2019, Abel Chivukuvuku não teria fundado o PRA JA – SERVIR ANGOLA, se o MPLA não tivesse orquestrado a sua defenestração da Casa-CE, plataforma política de que foi fundador e mentor.

5.  Em 2021, Abel Chivukuvuku não se teria juntado à Frente Patriótica Unida se o Tribunal Constitucional, “competentemente” guiado pelo MPLA, não tivesse negado o reconhecimento do PRA JA.

Com o seu PRA JA “na mão”, Abel Chivukuvuku não se aliaria a Adalberto Costa Júnior numa frente comum para combater o MPLA.

Se o MPLA tivesse autorizado o reconhecimento do PRA JA, a esta hora o chamado voto tradicional da UNITA estaria a balançar entre dois projectos.

Tomado pela arrogância e pela convicção de que é dono de todos os angolanos, o MPLA impediu o nascimento do PRA JA e com isso empurrou Abel Chivukuvuku e seguidores para o colo da Frente Patriótica Unida. 

Uma chatice, uma dor de cabeça que seria evitada se a racionalidade no  MPLA não tivesse cedido terreno ao ódio e à cegueira. 

6.  Se o MPLA não tivesse sido tomado pelo ódio de morte que lhe tem, Adalberto Costa Júnior, por certo, não seria o gigante político que é hoje.

7.  Pelos vistos, o ódio não traiu apenas Savimbi. Há quem lhe está a seguir as peugadas.

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