Julgamos que se está a cometer uma enorme injustiça em relação à Confederação Africana de Futebol (CAF), com o chorrilho de críticas esgrimido devido a realização da Taça de África das Nações de Futebol (CAN), de 09 de Janeiro a 06 de Fevereiro de 2022. Acusa-se a CAF, os seus dirigentes e os próprios estadistas africanos de subserviência ao europeu, de incapacidade organizativa genética, de falta de sentido de visão para a melhor época de realização dos CAN’s, de incompetência inveterada, enfim…
Acontece que esse vendaval de críticas, ofensas e aconselhamentos fariam e fizeram sentido até antes do CAN de 2019, que se disputou na República Árabe do Egipto, de 21 de Junho a 19 de Julho, uma vez que a reunião do organismo reitor do futebol africano de que resultou a referida marcação, que inicialmente teria como país acolhedor os Camarões (organização retirada por motivos de infraestruturas e de segurança), trouxe duas novidades de grande monta:
1) o aumento do número de participantes de 16 para 24 e
2) a fixação de um novo período de realização do evento, saindo de Janeiro – Fevereiro para Junho – Julho.
Note-se que, com esta segunda deliberação a prova disputada no Egipto, de 21 de junho a 19 de julho, foi a primeira fase final, que ocorreu na altura do ano, que corresponde ao verão no hemisfério norte e ao defeso nos campeonatos europeus de futebol. Tratou-se, então, da resposta a uma antiga e recorrente reivindicação dos principais clubes europeus, pois nas edições anteriores de CAN´s, se viam privados de algumas das suas melhores unidades africanas no auge da época desportiva (Janeiro e Fevereiro). Pelo que, houve uma ampla e generalizada exultação, na época, porque, com a fase final da CAN a adequar-se a outras grandes competições internacionais (como o Mundial, o Europeu ou a Copa América), os futebolistas dos países finalistas podem concluir a temporada nos respectivos clubes e só depois rumar à preparação das selecções nacionais.
Ou seja, doravante a competição respeitaria os inovadores formatos impostos, quer em número de finalistas, quer em termos de datas, o que significa que os CAN’s seguintes não fugiriam do diapasão ora traçado, designadamente, Camarões’2021 e Guiné’2023.
No entanto, contra qualquer cogitação, eis que África e o mundo inteiro ficaram envolvidos pelo surto pandémico (COVID-19) de registos absolutamente infernais, desde finais do ano de 2019 aos dias que correm. Levando a que o CAN’2021 dos Camarões sofresse um adiamento, para o ano seguinte, e que, por opção do Estado camaronês, invocando razões específicas de clima, se realizaria no quadro do calendário das edições anteriores a 2019. Por outro lado, a CAF se viu forçada a mudar de ano, uma vez que outros eventos futebolísticos também sofreram adiamentos (Euro e Copa América). Isto é, o CAN dos Camarões passou de Janeiro – Fevereiro de 2021 a Janeiro – Fevereiro de 2022. Por sinal, é o momento em que estamos no presente.
Logo, como se pode constatar, já há deliberação bastante ao nível da CAF para a adequação do período de realização dos CAN’s ao calendário das competições europeias (Junho – Julho), pelo que, temos dificuldades de compreender os xingamentos e xinguilamentos actuais em relação à data de realização deste CAN, fora dos cânones já adoptados pelo continente. Haverá, por aí, alguma crise genérica de memória?!
Temos dito!