O conflito opõe à Rússia à Ucrânia, há milhares de quilómetros de Angola.
Mas em Luanda, o Presidente João Lourenço e os seus coadjutores da área das Relações Exteriores a esta hora já estão encharcados em suores frios.
É que nesse conflito russo-ucraniano, desencadeado unilateralmente pelo “czar” de Moscovo, não há como ficar em cima do muro ou assobiar para o lado.
Todos os países são chamados a tomar uma decisão, e qualquer que seja implicará o alinhamento com uma das partes do conflito com as respectivas consequências.
Angola é uma tradicional aliada da Rússia, a herdeira da extinta União Soviética.
Embora as relações económicas não sejam ela essas coisas (como dizem os brasileiros), nos areópagos onde são traçados os grandes rumos da política mundial, Luanda tem alinhado incondicionalmente com Moscovo.
Mas nos últimos anos, Angola foi tomada por uma avassaladora paixão pelos Estados Unidos da América.
Desde que Bill Clinton reconheceu o nosso país, em 1994, o antigo Presidente José Eduardo dos Santos transpôs por quatro vezes a porta principal da Casa Branca.
Antes do reconhecimento, José Eduardo também já tinha sido recebido no salão oval da Casa Branca.
A pouco mais de seis meses do final do seu mandato, o Presidente João Lourenço viu goradas todas as tentativas – e não foram poucas – de ser recebido na Casa Branca.
Desde que foi eleito Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden tem se repetido em sinais de reprovação e desencorajamento de processos eleitorais fraudulentos.
Marcadas para o próximo mês de Agosto, as eleições angolanas já estão envoltas em suspeição.
Os principais partidos na oposição tomam como fraudulentos os procedimentos que levaram à nomeação do presidente da Comissão Nacional Eleitoral, bem como a escolha da empresa espanhola INDRA para organizar as eleições. A pouco mais de 6 meses das eleições, a comunicação social pública continua a ignorar a existência dos principais concorrentes do MPLA.
Os Estados Unidos olham para o actual panorama angolano como propiciador de eleições não transparentes.
É para convencer a administração americana de compromisso com eleições transparentes que o Governo do Presidente João Lourenço se tem multiplicado em tentativas de aproximação a Joe Biden.
É expectável que os Estados Unidos tomem em boa nota a posição de Angola em relação à guerra que Vladimir Putin desencadeou na Ucrânia.
Uma posição neutra ou dúbia do Governo de Angola em relação ao conflito russo-ucraniano pode aumentar as distâncias de Luanda e Washington.
Velha e sólida aliada, a Rússia também não tomaria em boa nota uma posição de Angola que reprovasse a agressão à Ucrânia.
Em linguagem terra-a-terra dir-se-ia que a diplomacia angolana está perante uma daquelas “batatas quentes” que só se pretende nas mãos de inimigos…