Ginga.com pronto para entrar em cena

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Duramente criticado, interna e externamente, por haver transformado os meios de comunicação social públicos em suas exclusivas correias de transmissão, o MPLA está a poucas semanas de inaugurar o seu império de média.Trata-se do Ginga.Com, um grupo multimédia em cujo portfólio constam estúdios de televisão, rádio, jornais, cinema, parque gráfico e outros meios.

A cargo da construtora portuguesa Martifer, as instalações do Grupo Ginga.Com, ao bairro Camama, em Luanda, estão agora a ser esquipadas com equipamentos de ponta. Os custos iniciais do mega projecto foram estimados em 20 milhões de dólares. Com o Grupo Ginga.com, que entrará em acção antes das próximas eleições, o MPLA pretende desafogar um pouco a comunicação social pública do férreo controlo a que a submeteu, sobretudo depois da chegada ao poder do Presidente João Lourenço.

No discurso que proferiu por ocasião da sua investidura, a 26 de Setembro de 2017, o Presidente João Lourenço prometeu “um maior investimento público no sector da comunicação social, de modo que os angolanos tenham acesso a uma informação fidedigna em todo o território nacional”. “Soltos”, os órgãos de comunicação social públicos expuseram aos olhos de todos um país tomado pela mais profunda miséria. Vieram à tona imensas localidades desligadas do resto do país e, por isso mesmo, desprovidas de qualquer serviço público.

A Rádio Nacional de Angola e a Televisão Pública de Angola mostraram que o país cor de rosa que o Governo “vendia” ao mundo através de espaços publicitários comprados a preços de ouro à Euronews e até mesmo em páginas de respeitáveis jornais só existia no imaginário.

Aparentemente surpreendido com o “tamanho” da miséria que grassa por todo o país, o Executivo liderado por João Lourenço rapidamente repôs a lei da rolha e desde 2018 os meios de comunicação social públicos regressaram ao que sempre foram: meras caixas de ressonância e exaltação das realizações do Executivo.

Com isso, os meios de comunicação social do Estado também fecharam-se à sociedade civil e aos partidos políticos na oposição.

Podendo significar uma “ carta de alforria”, o surgimento do grupo Ginga.com é, porém, um presente envenenado para os meios de comunicação social públicos, pois é neles que o novel grupo se irá abastecer de quadros. Alguns jornalistas da TV Zimbo, RNA e da Rádio Mais já foram informados da sua próxima mudança para os quadros do Ginga.com.

Neste momento, o Grupo Ginga.com é, provavelmente, o único candidato à reprivatização da TV Zimbo e de outras empresas do Grupo Media Nova arrestados pela PGR em Agosto de 2020 sob o argumento de haverem sido constituídas com fundos públicos.“(…) está em curso um processo e, muito brevemente, iremos abrir um concurso para o processo de privatização destes órgãos”, anunciou em Julho de 2021 o ministro das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, Manuel Homem.

O Grupo Media Nova era detido por Manuel Vicente, Hélder Vieira Dias “Kopelipa” e Leopoldino Fragoso “Dino”, figuras muito chegadas ao antigo Presidente José Eduardo dos Santos.

Quando assumiu o controlo do grupo, o Governo prometeu que não interferiria na sua linha editorial. Mas deu a “volta ao prego” e a TV Zimbo, a Rádio Mais e o jornal O País rapidamente foram “acoplados” ao aparato de propaganda do MPLA e do seu Executivo.

O ano passado quando vieram à tona as primeiras informações sobre o grupo Ginga.com nomes como o de Hélder Bárber e de Pedro Cabral foram associados ao projecto.

Com efémera passagem pela presidência do Conselho de Administração da TPA, a Hélder Barber é atribuído o mesmo posto na estrutura da nova televisão.

A Pedro Cabral, actual presidente do Conselho de Administração da Rádio Nacional de Angola, estaria reservada a mesma função na estrutura do Ginga.com.

Mas ao Correio Angolense o PCA da RNA disse ter-se desligado da iniciativa do “Kremlin” por incompatibilidade com a sua actual função.

Em meios bem informados diz-se que a criação do Ginga.com, com os seus variados tentáculos, foi inspirada pelo próprio Presidente João  Lourenço. O mesmo que desmantelou o monopólio de Isabel dos Santos sobre o cimento com o argumento de que a concentração de negócios numa única entidade seria prejudicial à economia de mercado.

De resto, o Ginga.com não é, apenas, uma réplica muito ampliada do Media Nova.Com o Ginga.com volta a colocar-se a velha questão da origem dos fundos com que está a ser constituído, bem como os seus verdadeiros donos.Em 2021, tanto Hélder Barber quanto Pedro Cabral foram chamados à sede do “Partido” para assinarem uma escritura que fazia de ambos acionistas do grupo multimédia. Mas dias depois, os dois jornalistas regressaram à “Sede”, onde foram “amavelmente” persuadidos a assinar procurações irrevogáveis através das quais abriam mão das “suas” acções na sociedade a favor de terceiros não identificados.