Até há pouco menos de 5 anos, Bento dos Santos Kangamba era dos mais celebrados “empresários” angolanos.
Embora não se lhe conhecesse uma única empresa ou prestadora de serviços, para o “Árabo”, o “kitadi” era “yango”.
“Sobrinho” do todo poderoso José Eduardo dos Santos, por via do casamento com uma sobrinha do então Presidente da República, Bento Kangamba era um mistério, pois a generalidade dos cidadãos não lhe conhecia a origem do dinheiro que lhe permitiu levar às costas um clube, importar e exportar “mulheres da vida”, nomeadamente brasileiras, frequentar assiduamente os caríssimos casinos do Mónaco e, não poucas vezes, atirar ao vento maços com notas de dinheiro.
Na Rua F, do Palanca, onde tem montado o seu “estado maior”, eram enormes as filas de cidadãos que disputavam uma audiência a Bento Kangamba para lhe pedirem emprego ou outro tipo de ajuda.
Em 2013, a Polícia francesa apreendeu perto de 4 milhões de dólares que o auto-proclamado “empresário da juventude”, pela via do “kapolo boxi”, pretenderia introduzir no Principado do Mónaco.
À justiça francesa, uma das “mulas”, o angolano José Francisco, disse que o dinheiro apreendido destinava-se a “gastos de jogo no casino Metrópole no Mónaco”.
Na estrutura do MPLA em Luanda, o dinheiro fácil e parentesco com José Eduardo dos Santos renderam a Bento Kangamba um cargo especificamente criado para ele: secretário para a Organização e Mobilização Periférica e Rural do Comité Provincial.
Com fama de distribuidor de generosas gorjetas, as estações televisivas e radiofónicas, públicas e privadas, disputavam quase à dentada entrevistas a um indivíduo que nunca deixou claro em quê língua se expressa melhor.
A estrutura de “barro” em que assentava o “império” de Bento Kangamba começou a expor-se quando o homem revelou dificuldades de honrar os pagamentos devidos ao antigo futebolista brasileiro Rivaldo, que convenceu a regressar aos campos após haver pendurado as botas.
Depois, houve uma sequência de notícias dando conta da incapacidade de Bento Kangamba de pagar os ordenados da equipa principal de futebol.
A informação que agora circula nas redes sociais sobre a próxima extinção do Kabuscorp significa o fim de uma picada.
É o ocaso natural de alguém que se tornou “empresário” apenas porque estava familiarmente ligado a quem, durante décadas seguidas, tratou o país como uma coutada particular, em que apenas singravam aqueles que eram escolhidos a dedo.
Com a anunciada morte do Kabuscorp terminará, também, uma ilusão.
O esfarelamento do “império empresarial” de Bento Kangamba é, por fim, a prova de que regimes com pendor autocrático, como o angolano, são muito propensos à ficção.
Como empresário, Kangamba foi uma clara ficção criada por José Eduardo dos Santos.