Os países espertos estão empenhados em rápidas alternativas ao gás, petróleo, cereais e fertilizantes, produtos que nos últimos dias têm conhecido significativos aumentos de preço desde que a Rússia de Putin invadiu a Ucrânia, no dia 24 de Fevereiro passado.
A Rússia é a principal fornecedora do gás natural que aquece e alimenta as cozinhas de alguns países ocidentais, sobretudo a Alemanha.
Rússia e Ucrânia, juntas, respondem por uma 29% das exportações mundiais de trigo e 19% do milho.
De acordo com a FAO (Fundo das Nações Unidas para Alimentação), em 2021 os russos produziram 88,9 milhões de toneladas de trigo e os ucranianos responderam com com 29 milhões de toneladas.
A Rússia fornece os fertilizantes que fazem do Brasil a potência agrícola que é.
Por causa da agressão russa, a produção ucraniana de cereais está quase reduzida a zero.
Por sua vez, Putin já avisou que a Rússia deixa de exportar os seus excedentes de trigo e milho. Toda a sua produção destina-se a suportar a guerra que desencadeou no país vizinho.
Ontem, sexta-feira, os Estados Unidos, pela voz do seu presidente, comprometeram-se a aumentar exportações de gás aos seus aliados da União Europeia em 67,5% e com diminuir-lhes a dependência de Moscovo.
Quando Putin ordenar o fim da sua tresloucada invasão ao país vizinho descobrirá, amargamente, que os países membros da União Europeia e outros já encontraram alternativas ao gás natural, carvão, ouro e outros metais preciosos que lhe enchem o peito. Possivelmente vai ter de oferecer os seus excedentes à China, Coreia do Norte e à Cuba, suas aliadas “naturais”.
Angola, um país com vastíssimas terras férteis e com água para dar e vender, também está exposta ao aumento dos preços de trigo e milho no mercado mundial.
É que, apesar dessa fartura de terras e de águas, Angola nunca quis ser auto-suficiente em nada.
Agora que os outros países espertos procuram alternativas ao trigo russo e ucraniano, o nosso ministro da Indústria e Comércio não fala de qualquer estratégia do Governo para diminuir ou mesmo cortar a nossa dependência.

Perante o galopante aumento dos preços dos cereais no mercado mundial, qualquer governante sério falaria da estratégia do Governo para encorajar, de imediato, a produção de milho, trigo e soja internamente.
Mas ao ministro Vitor Fernandes, também conhecido como “Batata com Mandioca”, a solução de Angola está em cruzar os braços e esperar que o tempo se encarregue de estabilizar os preços dos cereais, mesmo porque, segundo acredita, “o mundo não vai parar de produzir trigo”, em consequência da invasão militar da Rússia à Ucrânia.
Como era esperado, o ministro do Comércio e Indústria de Angola não foi capaz de precisar a quota de Angola “neste mundo que não vai parar de produzir trigo”, pela simples razão de que o Governo de faz parte não estabeleceu nenhuma estratégia emergencial de aumento desse cereal.
Com as terras férteis e rios abundantes de que dispõe, qualquer Governo sério teria transformado a crise russo-ucraniana numa imperdível oportunidade de relançamento, a sério, da produção de milho, trigo, soja de modo a blindar o país da flutuação dos preços no mercado internacional.
Com os preços do trigo e do milho na estratosfera, os pequenos, médios e grandes avicultores, suinicultores e pecuaristas têm, apenas, duas hipóteses: parar ou…parar.
No Kwanza Sul, em Malange, no Huambo, Huíla, Uíge, em todo o país, há milhares de hectares de terras férteis ociosos porque os seus “proprietários” ocuparam-nos apenas para atender caprichos.
Os generais, ministros e outros manda-chuvas que reclamam a tutela dessas terras deveriam ser imediatamente expropriados, sem qualquer indemnização. para que elas sirvam para produzir os cereais e outros alimentos de que Angola tanto carece.
Outrossim, o Governo deveria proibir, com efeito imediato, a exportação do pouco milho e trigo que vai sendo produzido aqui e acolá.
A Reserva Estratégica Alimentar deveria ser capacitada financeiramente para comprar toda a produção interna de cereais.
Mas enquanto Vítor Fernandes e outros brincalhões revestidos em governantes se agarrarem à certeza de que o “mundo não vai parar de produzir trigo”, Angola não moverá uma palha para alcançar a auto-suficiência nesse domínio.
Governo sério e esperto, a esta hora já teria reunido com Carlos Cunha, Ganga Júnior, Alfeu Vinevala, Monteiro Capunga, com o próprio João Lourenço e outros fazendeiros para estabelecer metas concretas de modo que nos próximos meses o país satisfaça razoavelmente as suas necessidades.
Governo sério teria entregue já a entidade privada com créditos firmados (nacional ou privada) a vasta fazenda de Mpundo-a-Ndongo, em Malange, onde a Gesterra fingia produzir milho.
O que sobra (se é que ainda sobra) dos fundos do Banco de Desenvolvimento Económico deveria ser prioritariamente canalizado para financiar a produção de cereais.
Em Julho de 2020, no auge do seu preço, Vitor Fernandes sugeriu aos angolanos a substituição do pão pela batata doce, mandioca, banana e ginguba.
Seria bom que o “nutricionista” Vítor Fernandes ensinasse os avicultores, suinicultores e pecuaristas a técnica de convencerem as galinhas, porcos, cabras e bois a comerem banana pão e mandioca.
Alimentadas a mandioca e à banana pão, quantos ovos se podem esperar, diariamente, de uma galinha poedeira?
Com a sua abstenção na Assembleia Geral da ONU, Angola é cúmplice da invasão russa da Ucrânia.
Porém, em momento algum ponderou as consequências mundiais da tresloucada decisão de Vladimir Putin.
Aliás, totalmente absorto na eliminação política de Adalberto Costa ( hoje por hoje feita na prioridade do Presidente da República e do poder judicial), é muito provável que o Governo nem sequer se tenha apercebido das perturbações que a guerra de Putin provocou no comércio mundial.