O MAT e a prorrogação do registo

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O Tribunal Constitucional (TC) “torrou” exactos 8 meses para proceder à anotação e registo dos congressos do Bloco Democrático e da FNLA.

E “queimou” outros três meses para fazer os mesmos procedimentos relativamente aos congressos do MPLA e da UNITA.

Apesar da inexplicável lentidão do TC – em países onde o funcionário não transforma o escritório onde trabalha num posto de fofoca, tagarelice e maledicência as anotações de congressos ou convenções partidários são feitos num único dia, se não mesmo em escassas horas – em momento algum se conjecturou que o passo de cágado imitado pela Corte pusesse em causa a realização das eleições nos prazos estabelecidos na última revisão constitucional. Mesmo porque, no contexto actual, eleições sem o MPLA e a UNITA são tudo…menos eleições. 

De Cabinda ao Cunene e do Mar ao Leste há milhões de cidadãos que ainda não se registaram ou actualizaram os registos. E isso não tem nada a ver – como diz aquelemenino que o Presidente, na sua bem intencionada empreitada de substituir o velho pelo novo, promoveu precocemente a ministro da Admnistração do Território – com um pretenso hábito dos angolanos de deixarem tudo para o fim.

Milhões de angolanos ainda não efetuaram o seu registo ou o actualizaram porque os BUAPs (uma invenção do actual titular do MAT) não dão conta do recado. Seja porque são atribuídas ao sistema quebras frequentes, seja porque os indivíduos que servem essas estruturas não conseguem dar vazão à enorme demanda de eleitores.

Apesar de muito viajados, os nossos angolanos dão do registo e actualização dos eleitores uma imagem de trabalho muito complexo e que, para não variar, exige do Governo muito “esforço”.

Nos Estados Unidos, Portugal, Brasil, países que Marcy Lopes deve conhecer melhor do que Angola, o cidadão faz o seu registo eleitoral com uma perna no bolso e outra nas costas.

Desejosos de contribuir para as mudanças que todos almejamos no país, o Governo deveria estender a oportunidade de participar da mudança a todos. 

A prorrogação do registo por mais 30 ou 45 dias não faria desabar o carmo e a trindade. 

As eleições gerais – o Presidente da República disse-o em Cabo Verde – terão lugar nos prazos previstos.

É inegável que há cidadãos que deixam para o fim as suas obrigações. Mas também não é menos verdade que, se todos eles atendessem a primeira chamada, não haveria Buap algum que daria conta do recado.

Outrossim, é preciso acabar, de uma vez por todas, com o péssimo hábito de estabelecer prazos propositadamente curtos para que para que o Presidente da República capitalize com a sua prorrogação.

Se conhecesse o país e, mais do que isso, se fosse humilde o bastante para ouvir quem sabe mais do que ele, Marcy Lopes teria proposto e defendido no Conselho de Ministro um prazo mais alargado para o registo e actualização do registo. Mas, para já, o rapaz não passa de um poço de arrogância e malcriadez – “qualidades” que, não tarda, vão render-lhe uns bons ( e merecidos) tabefes. Como esteve muito próximo de acontecer quando recentemente foi impingir a estudantes de uma instituição de ensino em Luanda a patranha de que o funcionamento dos BUAPs é totalmente irrepreensível.  

Em tempo: dois cidadãos angolanos, cuja idoneidade é irrepreensível, quando consultaram o seu registo no site do MAT constataram, com estupefação, que deveriam votar em províncias que ficam há milhares de quilómetros de Luanda, onde fizeram os registos.

O conhecido político e docente universitário Justino Pinto de Andrade registou-se num posto diante da Rádio Nacional de Angola, em Luanda. Mas, por via de “engenharias” de inteira responsabilidade do BUAP, o nome do académico foi “anexado” a Bangula, um modesto bairro de Ondjiva, de que nunca ouviu falar, no longínquo Cunene.

O mesmo se passou com o nefrologista Matadi Daniel. Mukongo nascido, criado e feito homem na “nguimbi”, arriscou-se a dar com os burrinhos na água, pois embora tivesse feito o registo em Luanda, o seu nome está listado como eleitor na longíqua Lunda Sul, aonde o “pobre ”médico não põe os pés há muitos anos.

Mas, sempre convencido que a escola só existe desde que nasceu, o ministro do MAT também atribuirá essas anomalias, que se repetem em todas as eleições, ao “mau hábito dos angolanos de deixaram tudo para o fim”?