O discurso sinistro do Kunene

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Depois de uma postura pacífica, por ocasião do dia da paz, um dia depois desta data importante para sensibilidade nacional, João Lourenço profere (apenas um dia depois), no Kunene, um discurso tão surpreendente quanto sinistro.

A mudança de humor em tão curto espaço de tempo levanta suspeitas e dúvidas razoáveis sobre o verdadeiro João Lourenço.

Qual deles, o Presidente da República ou o presidente do MPLA, é que governa o país?

Em artigo anterior aqui no Correio Angolense suscitamos uma dúvida: o presidente do MPLA e o Presidente da República, qual deles aconselha o outro? 

Vem agora a resposta: “a página oficial da Presidência da República passará a reportar os actos públicos do Presidente João Lourenço ligados a disputa eleitoral de 2022“, anuncia uma breve nota no site da presidência.  

E porquê?

“Por ser entendimento de que, candidatando-se pelo seu partido, MPLA, fá-lo, igualmente como Presidente da República, candidato à reeleição.” Está explicado.

No discurso do Kunene, os militantes (do MPLA) são abertamente incentivados a preparem-se para a guerra

(A correcção do tiro veio horas depois, mas tarde demais, porque o cidadão, que não é mentecapto nenhum, conforme entendimento de “entendidos” que rodeiam o Presidente João Lourenço, já percebeu que ali na cidade alta tudo é cozinhado numa única panela…)

O tão badalado (sobretudo nas redes sociais) discurso proferido no Kunene por João Lourenço começou com queixas (aborrecido com a ausência de Adalberto Costa Jr. no almoço de comemoração do 4 de Abril) e terminou com triunfalismos.

Pelo meio houve espaço no discurso para algumas ameaças: “A oposição está tão fragilizada que até fazem de uma simples comissão instaladora, que não está reconhecida, um partido político, e que age como tal, em desrespeito ao Estado. Agem como se se tratasse de um partido político“.

Prosseguiu (para concluir) …. “Mas o que estamos a ver é alguém a circular na via pública, um desencartado, porque não está reconhecido como tal, não tem carta de condução, não tem livrete, não tem título de propriedade e está a circular na via. O que é que se faz? A polícia não pode deixar esse carro circular (referindo-se a Abel Chivukuvuku), pode trazer desgraça.”

Está esclarecido!

Se antes já se tinha anotado que o MPLA é um “corpo estranho à sociedade “, agora, com o discurso sinistro do Kunene, fica evidente, ou pelo menos mais esclarecido.

Alguma troika, porventura, estará hoje no comando do maior partido político angolano e é esta troika que está por detrás dos discursos sórdidos que se podem encontrar com facilidade nas redes sociais.

Tal como no discurso do Kunene, as milícias digitais reproduzem um discurso de exclusão entre angolanos e, tal como no discurso do Kunene, os militantes são abertamente incentivados a preparem-se para a guerra.

É isso que fica subjacente quando o líder diz: “se baterem na face esquerda, não ofereceremos a nossa face direita.”

Isto é, o presidente do MPLA e os seus militantes sobrepõem-se à lei.