Esfolar o cidadão dê por onde der

3948

Actualmente, nos países que lideram a luta contra a pandemia, nos quais Angola abusivamente se insinua, o único documento sanitário exigido pelas companhias aéreas é o certificado digital de vacinação contra a Covid-19. 

Mas vacinas certificadas internacionalmente, como são as da Johnson & Johnson, Moderna,Novavax e AstraZeneca.

Nos países membros da União Europeia, indivíduos vacinados com “mistelas” como a russa Sputnik ou as chinesas CoronaVac, RBD-Dimer, Sinopharm BBIBP e Sinopharm Wuhan e CanSino só entram mediante apresentação de testes RT-PCR realizados 72 horas antes.

Na condição de cidadão comum, as três doses de Sputnik que o Presidente João Lourenço tomou não lhe abririam as portas de entrada na Europa.

Como nos velhos tempos do racionamento da comida, em que a elite, basicamente constituída por dirigentes do MPLA, era atendida em lojas especiais, para que não se misturasse com as mal cheirosas “massas populares”, também a vacina russa começou por ser administrada apenas aos governantes do primeiro escalão e respectivas parentelas.  

Além da “mistela” russa, Angola administrou, também, vacinas aceites na Europa Ocidental, como a Pfizer e AstraZeneca.

Contudo, apesar de ter administrado algumas vacinas aceites em em todo o mundo, Angola não tem a menor confiança no certificado de vacinação que ela próprio emite em decorrência dessa imunização.

Em nota emitida recentemente, a TAAG disse que são condições incontornáveis para a entrada no país a apresentação do Teste do Vírus SARS-COV-2 do tipo RT-PCR com resultado negativo nas 72 horas anteriores à chegada e o teste pós-desembarque. Trata-se do teste antigénio, que custa ao bolso do passageiro uma “semi-fortuna”  de pouco mais de 11 kwanzas, mais de 22 euros para o estrangeiro que não tenha moeda nacional.

O Certificado Digital de Vacinação, mesmo o emitido pelo Ministério da Saúde, não entra nas exigências para o acesso ao país.  

A TAAG está hoje entre as raríssimas companhias aéreas que operam no espaço europeu que exigem testes de Covid aos passageiros que tenham Angola como destino

Em vigor desde o dia 1 de Abril, o Decreto Presidencial n.º 72/22, de 31 de Março, sobre as Medidas Excepcionais e Temporárias a Vigorar Durante a Situação de Calamidade Pública Declarada por Força da Covid-19 recomenda “a todos os cidadãos que se desloquem ao exterior do País a realização do teste do Vírus SARS-CoV-2, para efeitos de controlo sanitário e de protecção da saúde colectiva”.

Na nota, a TAAG informa que a partir do mesmo dia 1 de Abril para a saída do país o passageiro portador de certificado de vacinação com duas doses está dispensado de realizar qualquer tipo de teste.

Enfim, não se sabe qual das versões está correcta: se a da Comissão, se a da transportadora aérea.

Seja como for, e em língua que o povo fala e entende, o que está claro é que as autoridades angolanas só consideram o certificado de vacinação para efeitos de saída do país.   

Já para entrar em Angola, o passageiro, seja ele angolano ou não, é duplamente “escovado”: `a partida, porque tem que “arrotar” para o teste RT-PCR, cujo custo, não chegando aos calcanhares da roubalheira praticada no país, não está, porém, ao mesmo nível do de um sambapito, e à chegada, em que o teste antigénio não é facultativo e muito menos gratuito. Custa aquela “módica” quantia de pouco mais de 11 mil kwanzas. 

Com a provável excepção da Coreia do Norte onde, certamente, até a Covid-19 não se atreveu a entrar, o teste RT-PCR é hoje praticamente um exclusivo dos passageiros com destino a Angola.

É evidente que a nossa mui incansável ministra da Saúde não vê nesse duplo assalto aos bolsos  dos passageiros qualquer constrangimento à imagem do país.  

Pelo contrário, deve tomá-lo como um chamariz ao turismo. 

O enigma é: por quê será que as autoridades angolanas não abrem mão de testes RT-PCR, mesmo em paragens onde eles já fazem parte do passado?

Uma, de várias hipóteses académicas, é que as autoridades do país estão apostadas em “esfolar” todos, sejam eles angolanos ou não. E fazem-no apenas por sadismo. É que não é plausível que os cofres angolanos beneficiem de quaisquer trocados dos milhões gastos em testes pré-embarques que Angola tornou obrigatórios no estrangeiro.

Noutros países, os governos trabalham para livrar os governados de despesas desnecessárias.

Em Angola, governantes festejam a sobrecarga de impostos e outras despesas. Parecem unidos no propósito de “depenação” dos cidadãos dê por onde der.