Goebbels avisou

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Corre nas redes sociais um texto, de suposta autoria de Ângela Bragança, em que a secretária para os Assuntos Sociais afirma que os angolanos perdem demasiado tempo com o que os outros povos dizem a seu respeito.

“Sinceramente quando vejo o tempo que perdemos com esses ´as posições dos americanos e tantos outros´, interrogo-me: foram eles que nos  deram a independência? a defesa da nossa soberania e da integridade territorial? a paz efectiva? o apoio à  reconstrução nacional? etc, etc, etc? Vi há dias que batemos palmas com o que disse o embaixador americano”, lê-se no texto da pretensa autoria da veterana dirigente do MPLA.

Há no texto em referência uma obviedade: embora não deva virar as costas ao mundo, Angola deve o seu presente e futuro essencialmente aos angolanos. 

As eleições do dia 24 serão decididas por angolanos.

No dia 26 de Julho, à saída de um encontro com o Presidente João Lourenço, o embaixador Tulinabo Mushingi produziu declarações que soaram a um embalador canto aos ouvidos do anfitrião.

De acordo com o diplomata, o Presidente João Lourenço liderou “reformas políticas, democráticas e sociais” não negligenciáveis, que “têm produzido resultados muito positivos. Sou novo, mas posso dizer que só não vê quem não quer ver, porque há uma diferença, que se pode sentir”.

Nesse dia, com certeza, o Presidente João Lourenço foi para a cama com o ego merecidamente nas alturas.

Mas, as declarações de Tulinabo Mushingi, sub-repticiamente corrigidas depois pela embaixada, não terão nenhum outro efeito prático além do entusiasmo, orgulho e mesmo vaidade que produziram no Presidente João Lourenço e na sua falange de apoio. No dia 24 de Agosto, as palavras do embaixador americano não terão nenhum peso na decisão dos eleitores. O Presidente João Lourenço será julgado pelas suas realizações nos últimos 5 anos e não pelas declarações do embaixador norte-americano.

O mesmo se passa com o “vendaval” suscitado pelo projecto de resolução do Senado dos Estados Unidos sobre as eleições em Angola.

Embora na proposta esteja expresso que Angola vive “sob um regime autocrático e de má gestão de dos recursos do Estado” ou que “desde a independência que Angola é governada por um único partido e as próximas eleições vêem sendo marcadas por tentativas de silenciamento e de intimidação de membros da oposição”, mesmo se aprovada, a resolução do Senado não garantirá eleições livres e transparentes em Angola.

O pedido “a todos os envolvidos  para que ajam no  interesse dos angolanos e que proporcionem aos angolanos a oportunidade de finalmente verem ouvidas as suas preocupações, em eleições livres, justas num processo democrático credível” é somente isso mesmo. 

A resolução não garante nem a vitória da oposição e nem a derrota do MPLA.

A proposta de resolução também não garante que os Estados Unidos intervirão militarmente em Angola, mesmo se eventualmente comprovadas por observadores internacionais as irregularidades que a oposição denuncia em todo o processo eleitoral. 

Não sendo garantia de nada, não faz nenhum sentido a desesperada tentativa da correspondente da TPA na Casa Branca de “arrancar” de três senadores norte-americanos desmentidos ao projecto de resolução que eles próprios patrocinaram.  

Aliás, a partir da sua própria reportagem ficou claro que a repórter Hariana Verás esforçou-se por colocar na boca dos três senadores palavras que eles não disseram.

Joseph Goebbels ensinou que uma das mais importantes regras da propaganda é não acreditar nela.

Em Washington, a correspondente da Televisão Pública tropeçou e espatifou-se nos factos que ela própria manipulou.  

De um modo geral, toda a comunicação social pública angolana tem ignorado o velho ensinamento de Goebbels.

Esta semana, a imprensa pública noticiou que o Presidente João Lourenço visitará o Reino da Noruega em Novembro próximo.

Há pouco mais de uma semana, a imprensa também noticiou que o Presidente Joe Biden convidou João Lourenço para a cimeira EUA-África que terá lugar em Dezembro.

A visita  à Noruega foi anunciada por Kikkan Marshall Haugen, embaixador cessante em Angola, na quinta-feira, 04, à saída de uma audiência com João Lourenço.

A sensatez recomenda que se tome esse e outro convites  com as devidas cautelas. Não é normal que os Estados Unidos e a Noruega, um países de sólida democracia, se antecipem à decisão dos angolanos. O Chefe de Estado que irá à cimeira EUA-África, em Dezembro,  ou à Noruega, em Novembro, sairá do sufrágio de 24 de Agosto. E mesmo que, por alguma magia, adivinhassem o resultado da eleição deste mês, por pudor e respeito norte-americanos e  noruegueses não imporiam aos angolanos o nome do Chefe de Estado que terão em Novembro e Dezembro.

Os convites dos EUA e da Noruega foram dirigidos ao Chefe de Estado angolano. Em Novembro, o nosso Chefe de Estado pode chamar-se João Lourenço ou não.

É por isso que à imprensa pública angolana se exige que não acredite na propaganda do “já está”.

Diga-se o que se disser, só o pleito do dia 24 determinará quem será o Presidente angolano depois de Agosto de 2022.

Concorde-se com ele ou não, Joseph Goebbels acertou em cheio.

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