No essencial, devemos encarar os resultados das presentes eleições como, por um lado, um voto de protesto contra as más práticas governativas dos últimos 5 anos, em colação aos fiascos dos anos anteriores, a remontar da Independência. Protesto contra a ilusão vendida, no início do mandato, de “corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”.
Por outro, voto de castigo contra a principal liderança, pela miopia de análise e excessiva convicção de autossuficiência, o que impede qualquer um de ter uma visão panorâmica das realidades. Castigo pelas pessoas que escolheu e manteve na governação, contra todo o desaconselhamento recebido (por exemplo, o descalabro em muitas províncias tem muito a ver com a insistência em governadores que lá não estavam a fazer nada, a não ser “cuidar de si próprios”).
Outrossim, me parece que o M está a passar pela crise da maioridade, por que passam os partidos – movimento, aqueles que surgiram durante os processos revolucionários pela independência dos seus países.
Alguns conseguiram fazer a relativa metamorfose para os regimes democráticos dos anos 1990. E o M, com todo esse tempo de poder, hoje, tem dificuldade de produzir um discurso, capaz de agregar/atrair novos militantes e, sobretudo, novos quadros. O que gera a inevitável saturação interna e indigestão externa.
Pelo que, mais do que voto a favor deste ou daquele, o que se viu, nestas eleições, é a mais pura manifestação de cansado pelo discurso insosso e atávico, bem como da total falta garantia do partido de poder vir a fazer diferente na próxima vez.
Agora, o que o M precisa, numa pincelada inicial, é de uma profunda reinvenção para ser capaz de se apresentar à sociedade, e ao mundo, com um novo rosto e com um caderno de encargos melhorado. Doutro modo, será a continuação da morte lenta que vem exibindo nos resultados eleitorais, desde 2012 a esta parte.