MPLA. DA ARROGÂNCIA À BIRRA INFANTIL

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Serei o Presidente da República de todos os angolanos e é meu compromisso trabalhar continuamente para que Angola seja uma grande economia, uma grande democracia e uma sociedade onde todos os angolanos tenham as mesmas oportunidades de desenvolver seus talentos e capacidades, enfim, de prosperar”.

(Discurso de vitória de João Lourenço, proferido  no dia 29 de Agosto, na sede do MPLA, em Luanda)

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Ao assumir, por mandato do povo soberano,  as funções de Presidente da República de Angola, declaro por minha honra respeitar a Constituição e a Lei, ser o Presidente de todos os angolanos e governar em prol do desenvolvimento económico e social do país e do bem-estar de todos os angolanos.

(João Lourenço, no discurso de investidura como Presidente da República, no dia 15 de Setembro de 2022)

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“Felicito também a todos os Partidos e Coligações de Partidos Políticos pela sua participação nestas eleições, o que contribuiu para o fortalecimento da nossa democracia”.

(Idem)

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O Bureau Político do MPLA exorta, mais uma vez, os ANGOLANOS DE BEM, a manifestarem o seu sentimento de reconhecimento e de orgulho patriótico pela missão do Executivo proporcionar melhores condições de vida às populações.”

(Comunicado do Bureau Político do MPLA, de 27 de Setembro de 2022)

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Três ou quatro dias antes, uma tal Núria Lopes, um conhecido marmanjo, membro do Comité Central que tem o estranho hábito de trajar saias (não se sabendo se a esse “costume” corresponde a respectiva orientação sexual…), antecipou a definição do que o Bureau Político define como Angolanos do Mal, por oposição aos seus ANGOLANOS DE BEM. Na que se supõe ser extensa lista de angolanos do “mal” caberiam “palhaços de circo” como “Hitler Samussuku, Dito Dali, José Gama, Marcolino Moco, António Venâncio, Luaty Beirão, Sérgio Piçarra, Ana Carina, Lady Laura, Laura Macedo, Fernando Macedo, Paula Cristina Roque, Ana Maria Simões, Emídio Fernandes, Graça Campos, Ilídio Manuel, Severino Carlos, Nelson Sul d’Angola, Gilmário Vemba, Bonga Kwenda (vai continuar farto), Gangsta, Isidro Fortunato, Jerónimo Nsissa, Ramiro Aleixo, Francisco Rasgado, Carlos Rosado de Carvalho, Rui de Paula, kota Marcelo, etc, etc, etc…”

O MPLA tem destas variações. No auge dos seus delírios, já se confundiu com o povo, sob o slogan “MPLA É O POVO E O POVO É O MPLA”. Depois e noutro gesto de soberba, auto-atribuiu-se a qualidade de vanguarda do Povo angolano. 

Um pouco mais tarde e já com a “pança cheia”, decidiu elitizar-se. Foi, então, que adoptou o célebre “Não é do MPLA quem quer, mas quem merece”. Mas a admissão selectiva de membros durou pouco tempo. Todos os indivíduos que manifestassem algum arrependimento com parte do seu passado foram recebidos de mão aberta, entraram pela porta da frente do MPLA e não para ocupar cadeiras do fundo da sala…

Mas, em todo o ano que precedeu as eleições de Agosto, o MPLA foi tomado pelo medo e pelo pânico. Passou a ver arruaceiro, vândalo ou “lumpeno” em todo o jovem que manifestasse algum descontentamento com o status quo.

Assustado com a perspectiva de ter, pela primeira vez, alguém que verdadeiramente lhe disputasse o voto nas urnas, referiu-se à então debutante Frente Patriótica Unida como uma entidade cujo fim único seria “enganar e mobilizar os jovens para as más causas, como a realização de manifestações violentas e a vandalização e destruição de bens públicos (…) O único programa de nação que eles têm é mobilizar alguns jovens radicais das cidades, dar-lhes meia dúzia de tostões para irem comprar uma cerveja, se calhar algo mais droga do que isso, para cometerem actos de vandalismo. Este é o programa de governação que, infelizmente, a nossa oposição tem.»

Um cartaz de “bom tamanho” exibido num comício do candidato a presidente de todos os angolanos

Adalberto da Costa Júnior, líder da FPU, foi catalogado como alguém sem escrúpulos, um estrangeiro “que executa uma agenda política contrária aos interesses de Angola e dos angolanos”. Num comício de campanha eleitoral, animado pelo líder do MPLA, foi exposto em gigantesco cartaz, que, seguramente, não escapou aos olhos de João Lourenço, com dizeres ofensivos ao adversário.

Em Dezembro do ano passado, Bento Bento, secretário provincial do MPLA, convocou os “médicos do bem” em contraposição aos “médicos do mal”, que reclamavam, por via de uma greve, melhores condições de trabalho. Criando diques, que colocam de um lado arruaceiros, palhaços de circo, angolanos do mal, etc, etc, com quê angolanos o MPLA conta para construir o país que seja bom para todos viverem?

Era suposto que a realização das eleições, ainda que os resultados estejam muito longe de ser aceites por todos, significasse um virar de página. Mas, pelos vistos, há no MPLA gente que faz da divisão dos angolanos o seu único ofício. Há gente para quem não votar no MPLA e no seu líder, não caucionar a continuada roubalheira do país, coloca os angolanos, muitos, que não votaram no MPLA e no seu líder, ao lado daqueles que supostamente afrontam a ordem e contra os quais as autoridades competentes responderão “com força legal”

Sem dúvida, o BP coloca no lado avesso ao do bem, todos os angolanos que não se ajoelham perante o Executivo e seu titular por, à custa dos próprios bolsos de muito sacrifício pessoal, lhes proporcionaram “melhores condições de vida”. 

Tomando-os a todos os como masoquistas, o BP do MPLA exorta “mais uma vez, os angolanos de bem a manifestarem o seu sentimento de reconhecimento e de orgulho patriótico pela missão do Executivo proporcionar melhores condições de vida às populações”. “Lata” é coisa que o MPLA tem em excesso! À arrogância patológica, o MPLA agora acrescentou a birra infantil.

No comunicado do seu BP, diz que o “ MPLA jamais alinhará com Forças Políticas que não respeitam a Constituição e a Lei, promovem a subversão(…) chegando ao ponto de não felicitar o vencedor, a quem agora se arrogam ao direito de convidar para caminhar lado a lado”.

A pergunta é: em todas as matérias que venham a ser agendadas na Assembleia Nacional, MPLA e UNITA estarão, invariavelmente, de costas viradas? Nem mesmo nas comissões especializadas, o MPLA alinhará com a UNITA? 

Exigência de todos os angolanos, a realização das autarquias será, mais uma vez, adiada sine die pela simples e definitiva razão de que o MPLA se recusa acompanhar a UNITA, seja em que matéria for?

Sob o argumento de que “jamais alinhará” com forças que não o felicitaram pela discutível vitória, o MPLA já está antecipadamente a furtar-se a debates sobre assuntos estruturantes, como, por exemplo, uma revisão constitucional que separe a eleição presidencial da legislativa, que reduza a quota do Presidente da República na indicação dos juízes do Tribunal Constitucional ou que fixe um limite a partir do qual o Titular do Poder Executivo não pode autorizar despesas públicas sem o aval, obrigatório, de 2/3 dos deputados e proíba no ordenamento jurídico angolano a autorização de abertura de procedimentos de contratação simplificada, propícia ao livre arbítrio, como oportunamente denunciou a ministra das Finanças.