Como a qualquer cidadã, também à empresária Elizabeth Dias dos Santos assiste o direito à repulsa ou à rejeição de práticas que tome como reprováveis.
Como todos os cidadãos, também à empresária assiste o direito de avaliar e fazer juízos de valor da comunicação social angolana.
Mas, a mim, tal como à empresária Elizabeth dos Santos, também assiste o direito de discordar completamente do pretenso paradigma por que se guia a generalidade da comunicação social angolano.
Tomada pela indignação que a matéria do semanário Valor lhe causou, Elizabete Santos assegura que “todos sabemos que vivemos o paradigma do jornalismo ou reportagens por encomenda”.
Qualquer dicionário da língua portuguesa ensina que paradigma é um modelo, é um padrão.
Em quê consistem as provas de Elizabete dos Santos de que o jornalismo angolano, no seu todo, toma a encomenda como padrão?
A empresária Elizabeth dos Santos enquadra no que entende como “jornalismo ou reportagem por encomenda” o facto de um jornal haver dado publicidade a um Despacho do Presidente da República? Ou a empresária toma por “jornalismo ou reportagem por encomenda” o facto de o Despacho do Presidente da República, retomado pelo semanário Valor, referir-se à Fazenda Pérola do Kikuxi, cujos proprietários são sobejamente conhecidos?
É estranho, mas a empresária Elizabete dos Santos, aparentemente muito atenta, há dois anos não tugiu, não mugiu e, por alguma razão, também não viu nenhum “jornalismo ou reportagens por encomenda” no silêncio de toda a comunicação social pública ante à denúncia do semanário Expansão segundo a qual o presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos, por acaso seu pai, recebia um subsídio de renda mensal de 17 milhões de kwanzas.
Numa coisa, Elizabete dos Santos tem razão. Na verdade, é às instituições que deve explicar o incumprimento dos pagamentos devidos ao Estado por via do PROPRIV.
Mas, o incumprimento do compromisso não veio à tona por via do “jornalismo ou reportagens por encomenda”. O assunto está no ventilador público porque, muito provavelmente, o Presidente da República constatou incapacidade ou falta de vontade da Pérola do Kikuxi de pagar os quase 2 mil milhões de kwanzas devidos ao Estado.
Compreende-se que a publicação da dívida da Pérola do Kikuxi lhe tenha provocado alguns arranhões à reputação.
Mas, disso não são culpados os jornalistas.