Os mercados sempre foram a tipologia mais importante dos equipamentos públicos. O lugar do encontro, da troca, da socialização das diferentes classes sociais. Ao ar livre, semi cobertos ou encerrados em edifícios próprios. A rua é uma parte integrante deste actividade humana. Em todos os países. Diária, semanalmente ou em períodos específicos das festas nacionais, estão nas ruas. Anima-se a vida e dá-se cor às ruas e aos diálogos. Alguma parte do rural e do urbano se entrelaçam pelos mercados. A qualidade da nossa alimentação passa pelo consumo de produtos frescos e biológicos ali adquiridos. E por ali também a qualidade da vida. Juntam -se aos alimentos as iguarias locais como doces, enchidos, produtos artesanais, que fazem viver as economias domésticas e de micro e pequenas empresas. Juntam -se as vendas de braçadas de flores e plantas que compõem a beleza das matizes de cores e cheiros. Perfumam-se assim as ruas das cidades.
Quando o entardecer se aproxima recolhem-se produtos, é tempo de saldar frescos para que mais acessível a todos possam ser flores, legumes e fruta. Aos que se consideram já improprios para venda, os mais pobres recolhem para seu alimento. Lavam-se as ruas. É todo um ciclo econômico e social de enorme importância. As cidades angolanas como todas as outras no mundo, menos ordenadamente incluem esta dinâmica. As quitandeiras, assim chamadas no tempo colonial , as bessanganas e as zungueiras, nome actual, sem os suficientes mercados organizados nas áreas mais urbanas, percorrem as ruas com os seus pregões. Num pais com 80% de economia informal, 47% de desemprego, a venda de rua é sinônimo de sustento, grosso modo assegurado pelas mulheres no que a frescos diz respeito. Actividade digna que precisa da atenção, organização e protecção do Estado.
Mas o Estado têm-nos também como inimigos de uma qualquer imaginável ordem urbana da qual.asseguram sobretudo a desordem. Não perceberam o fundamental-Organizar a venda pública, torná-la beleza, qualidade de vida, qualidade de consumo em algumas áreas públicas ou mesmo ao longo das ruas. Não perceberam que o seu papel é acarinhar e estruturar o espaço físico onde os mercados de rua podem ser quadros vivos.
Formação em economia de base, estabelecimento de regras, ensinar e assegurar a higiene e limpeza ao fim do dia destes espaços, … ou seja não percebem a cidade que temos nem o seu papel como Estado do valor fundamental para as cidades dos mercados de rua. Não percebem também.como se desenvolve a economia com.base em produções domesticas, micro empresas num país dominado pela economia informal. Não percebem como podem capitalizar positivamente a produção e comercialização da economia informal de uma forma organizada que a todos beneficia em termos de qualidade de vida, consumidores e produtores locais. O que fazem? Arrasam com as vendas de rua. Prendem e roubam as zungueiras e mais uma vez tornaram uma classe inimiga. Uma classe que querem eliminar. Proibir é a palavra preferida. Ouvirão alguém que os faça perceber a dinâmica produtiva dos mercados e a lógica da econômica local transformando-a a favor do rendimento nacional das famílias? Ou querem eliminar 80% do sustento da economia nacional que se faz informalmente, sem terem nada para oferecer alternativamente à maioria das famílias em Angola? Quando finalmente vão perceber que as soluções passam por regulamentar, organizar, formar as pessoas que se sustentam da economia informal em vez de acreditarem que reprimindo e proibindo acabarão com 80% da vida e do sustento nacional?