Mário Durão junta-se
à (ruidosa) “cantoria”

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Com o nome envolvido nas denúncias de tráfico de drogas, feitas por um traficante foragido na Holanda, Mário Durão está decidido a dar novo élan à Associação Jovens Unidos e Solidários.

Presidida por Mário Durão, essa associação decidiu, no dia 4 de Janeiro, lançar uma operação denominada “João Lourenço Hoje, Amanhã e Sempre”, uma iniciativa enquadrada numa campanha que visa uma alteração constitucional que estique o actual mandato do Presidente João Lourenço.

A Associação Jovens Unidos e Solidários é o braço da falange de apoio ao Presidente João Lourenço. Está para João Lourenço como o Movimento Espontâneo esteve para o seu antecessor, José Eduardo dos Santos.

Antes das eleições do ano passado, com o apoio logístico da Casa Militar e de Segurança do Presidente da República, Mário Durão e pares foram a algumas localidades do país ofertando a pessoas carenciadas bens alimentares, quase integralmente compostos apenas por sal e óleo alimentar. 

A Associação Jovens Unidos e Solidários junta-se a outros grupos obscuros, um dos quais encabeçado por Kawiki da Costa, um “viajante” com trânsito  por quase todos os partidos políticos, que reclamam ruidosamente a extensão do mandato do Presidente João Lourenço.

O ruidoso movimento é dirigido pelo general José Tavares, um indivíduo com enorme influência na Presidência da República, embora publicamente não lhe seja conhecida nenhuma função formal. 

É-lhe atribuído o manuseio exclusivo do cofre que irriga financeiramente a campanha pró-extensão do mandato de João Lourenço.

Membro da Comissão Executiva do Comité Provincial do MPLA de Luanda, Mário Durão tem uma extensa lista de trafulhices, que já lhe custaram algumas passagens por esquadras policiais. A mais recente trafulha foi o desvio de milhões de kwanzas destinados ao pagamento dos motoqueiros que participaram numa passeata que antecedeu as eleições.

A Mário Durão e Wankana Oliveira, o Comité Provincial do MPLA de Luanda teria confiado vários milhões de kwanzas para organizar uma passeata motorizada de apoio ao partido em vésperas de eleições. A generalidade dos participantes não recebeu um tostão do dinheiro prometido.

Revoltados, os motoqueiros perseguiram os promotores da marcha até à Ilha de Luanda, onde depredaram e incendiaram o carro de Wankana Oliveira.

A operação “João Lourenço Hoje, Amanhã e Sempre” é uma clara tentativa de Mário Durão de desviar as atenções sobre as suspeitas do seu envolvimento com o tráfico de drogas.

A publicidade dada a essa iniciativa significa que a nenhuma entidade oficial incomoda o facto de um suspeito de traficar drogas procurar lavar a sua imagem à custa do nome do Presidente da República. 

Em 2018, o Presidente João Lourenço ameaçou desencadear procedimentos judiciais contra um cidadão que queria “florescer” à sua sombra. Cinco anos depois, um suspeito de tráfico de drogas acoita-se sob o nome do mesmo Presidente João Lourenço, com a diferença de que agora ao Mais Alto Magistrado do País não parece incomodar que o seu nome sirva de sombrinha de um putativo criminoso

Desejoso de uma alteração constitucional que lhe dê mais um ou dois mandatos, ao Presidente João Lourenço aparentemente também não incomoda que um potencial traficante se junte a esse seu propósito.

Em Maio de 2018, o Presidente João Lourenço repeliu com veemência uma tentativa de um cidadão que pretendia ir ao bolso público à pala da sua imagem.

No dia 23 de Outubro de 2017, o cidadão Luís Amílcar Lello Ferreira escreveu ao então recém-empossado Presidente da República pedindo-lhe apoio institucional e financeiro para a sua actividade empresarial e se propunha  criar uma fundação em nome do Chefe de Estado e da sua esposa.

Em carta,  Ricardo Viegas D`Abreu, secretário para os Assuntos Económicos da Casa Civil, referiu que o Presidente da República “repudia a ideia de criação de uma fundação cuja designação” tenha o seu nome por não corresponder “ao modelo de relação” que “pretende estabelecer com a sociedade”.

Na carta, Ricardo D`Abreu deixou claro que o Presidente da República consideraria o desencadeamento de “acções judiciais e criminais” se o cidadão Luís Amílcar Lello Ferreira persistisse nos seus intentos.

A “cantoria” sobre a extensão do mantado presidencial, a que agora se junta Mário Durão e outros, vem do passado, quando João Lourenço nem sequer ia a meio do seu primeiro. Foi inaugurada por um membro do Comité Provincial do MPLA da Lunda Norte, António Mussumari, sob a alegação de que em 10 anos o Presidente não seria capaz de realizar todos os desígnios a que se propôs na campanha eleitoral. 

Mais tarde, o próprio Presidente João Lourenço juntou a sua voz à cantoria. 

Num comício de campanha para as eleições do ano passado, João Lourenço disse serem insuficientes os 10 anos de tempo máximo que a Constituição da República estabelece para o exercício de dois mandatos consecutivos. 

João Lourenço era o  seu primeiro vice-presidente quando a Assembleia Nacional  aprovou, em 2010, a Constituição da República de Angola que fixou os limites dos mandatos presidenciais.

A participação de indivíduos de reputação e idoneidade censuráveis na campanha pela extensão do mandato do Presidente da República significa que o país já está em modo de vale tudo!

Repetindo, o mutismo de João Lourenço faz muito mal ao honroso cargo que exerce circunstancialmente.