Imagine-se o tal Presidente africano

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Imagine-se: Omar Ondimba, Presidente de um país africano, que, reiteradamente, se furta a clarificar a sua posição em relação a um putativo terceiro mandato e sofre um golpe de estado militar. 

O golpe de estado não tem como motivação apenas a questão da (sua) indefinição. 

Mas, sobretudo, o estado de vicissitude para a Constituição que tal indefinição coloca.

A melhor forma de não haver golpes é governar bem; governar bem significa, primeiro, que “o país não é propriedade do Presidente da República.”

O Bispo de Cabinda, Dom Belmiro Chissenguti,  foi assertivo. Não seria necessário fazer este lembrete ao tal presidente africano e, assim, manter-se guardada a estabilidade constitucional.

Pois, que, com as suas simulações de comportamento perante a Constituição, envia uma mensagem: “eu sou o rei e acima da Constituição.” 

E quem quiser saber sobre a minha posição com relação a um terceiro mandato aguarde pelo meu pronunciamento.

Ou seja, a Constituição é aplicada consoante o momento e a vontade do referido presidente africano. 

O exército, interpretando o clamor da sociedade, resolve intervir e pôr fim à chalaça.

O tal presidente africano que antes só sabia se expressar em língua francesa, de repente passa a privilegiar a língua inglesa. “Make noyse, my friends” (façam barulho, meus amigos). 

E nenhum dos amigos consegue ouvir a voz clamando no deserto. A voz que se esforça por ser audível não passa das quatro paredes onde, entretanto, já foi confinado pelos militares.

No dia seguinte, as novas autoridades, numa vistoria aos aposentos do deposto presidente africano, descobrem que o Banco Central do país tinha sede na própria casa dele.

O que gasta nas suas extravagantes viagens ao exterior, supostamente, ao serviço da “diplomacia económica” do país é proporcional ao que não é inscrito no Orçamento Geral do Estado para os pobres.

E as crianças desse país a passarem fome e o seu futuro roubado pela corrupção demencial dos governantes e do presidente chefe da quadrilha de ladrões do dinheiro dos cidadãos.

Depois disso,  o tal presidente africano já deposto,  uma organização, alegadamente com procuração para falar de democracia, boa governação e direitos no continente africano, faz a sua aparição ridícula. 

De última hora, refira-se. Para dizer em resumo nada que tenha substância.

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Kajim Ban-Gala
Jornalista, Escritor e Jurista.