Primeiro o estrangeiro, segundo o estrangeiro?

264

Em digressão por vários países, que incluiu uma pararem, dir-se-ia que quase obrigatória, em Luanda, o bissau-guineense Domingos Simão Pereira encontrou no Presidente João Lourenço um anfitrião muito atento aos seus queixumes.
Também a Televisão Pública de Angola e a TV Zimbo deram generosos tempos de antena ao Bissau-guineense.
De acordo com os dados da Comissão Nacional Eleitoral da Guiné Bissau, Domingos Simão Pereira perdeu para o concorrente Umaro Sissoco Embaló a eleição presidencial realizada no dia 29 de Dezembro.
Inconformado, Domingos Pereira, apoiado pelo PAIGC, contestou o resultado. Mas em nova contagem, a CNE reafirmou a vitória do concorrente.
Antigo secretário-executivo da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), o candidato derrotado condiciona a aceitação ou não do resultado eleitoral a decisão que vier a ser tomada pelo Supremo Tribunal de Justiça, para o qual também recorreu.
À saída do encontro com o Presidente João Lourenço, Domingos Pereira disse que a eleição presidencial no seu país foi marcada por “uma agenda estranha à Guiné, movida por questões religiosas, étnicas e tribais”. Às duas televisões, ele apontou concretamente o dedo ao Senegal, a quem acusa de forte e abusiva interferência nos assuntos internos do seu país.
Há pouco mais de uma semana, quer o Presidente da República quanto a TPA e a TV Zimbo tiveram comportamento diverso. Aos apelos da oposição e organizações da sociedade civil para que a Assembleia Nacional adiasse condicionasse o empossamento de Manuel Pereira da Silva “Manico” no cargo de presidente da Comissão Nacional Eleitoral, João Lourenço primeiro reagiu com indiferença e depois com arrogância quando, supondo-se titular de todos os poderes da República determinou que o Parlamento seguisse “simplesmente” a indicação do Conselho Superior de Magistratura Judicial.

Presidente João Lourenço ouvindo os queixumes de Domingos Pereira. ( Foto do Jornal de Angola)


Enquanto “pai da Nação”, porque é assim que muitos líderes africanos são e gostam de ser tratados, João Lourenço não se deu ao trabalho de tirar um pouco do seu tempo para ouvir os argumentos daqueles que contestavam a tomada de posse de Manuel Pereira da Silva.
Pelo contrário, enquanto Comandante-em-Chefe das Forças Armadas permitiu, ou pelo menos não se opôs a que a Policia investisse selvaticamente contra jovens que saíram pacificamente à rua para contestar a posse de Manico.
Alinhadas ao poder, as duas mencionadas estações televisivas também não fizeram eco das reclamações da oposição e de parte da sociedade civil. Espaços livres nas respectivas grelhas de programa que não encontraram para dar a palavra a uma parte do país sobrou, e como sobrou, para Domingos Simão Pereira derramar sobre os angolanos os seus fracassos e frustrações.
Jonas Savimbi esteve muito longe de ser uma unanimidade nacional. Mas não se lhe podia negar razão quando pregava a supremacia dos angolanos na sua terra. “Primeiro os angolanos, segundo os angolanos, os angolanos sempre!, dizia.
Não devemos perder de vista que já houve um tempo em que o principal centro do poder em Angola, a Presidência da República, era dominado por descendentes de estrangeiros, nomeadamente “sãotomistas” e cabo-verdianos. Mais recentemente, Isabel dos Santos, a primogénita de José Eduardo dos Santos, transformou, com o maior descaramento do mundo, a Sonangol, a nossa “galinha de ovos de ouro”, como lhe chamou o Presidente João Lourenço, num apêndice de interesses portugueses. No curto espaço de tempo que ficou por lá, a falsa vendedora de ovos mudou radicalmente a face da principal empresa angolana, dando-lhe um rosto completamente embranquecido.
A sujeição ao estrangeiro é para manter no “paradigma” de João Lourenço?