MIREX, quando o crime compensa

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Narciso do Espírito Santo Júnior é um dos três consultores do gabinete do ministro das Relações Exteriores toma posse no dia de hoje, 28 de Abril, no Salão Nobre Paulo Teixeira Jorge.

Antigo cônsul geral de Angola em Portugal, Narciso do Espírito Santo será empossado conjuntamente com Arcanjo Maria do Nascimento, antigo embaixador extraordinário e plenipotenciário de angola na Suíça e representante permanente de Angola junto do Escritório das Nações Unidas e Organizações Internacionais. Foi, também, embaixador extraordinário e plenipotenciário do nosso país na Etiópia.

Em Maio de 2019, Arcanjo M do Nascimento foi detido preventivamente por existirem “fortes indícios” de cometimento de crimes de “peculato, corrupção passiva e branqueamento de capitais”, segundo nota então divulgada pela Procuradoria Geral da República.

Arcanjo do Nascimento nunca respondeu em juízo pelos crimes de que foi suspeito e que lhe valeram a privação da liberdade durante algum tempo.

A terceira consultora do gabinete do ministro das Relações Exteriores que toma igualmente posse esta tarde é Veruza Bula Diogo de Paiva.

Exonerado do cargo de cônsul geral de Angola em Portugal em Junho de 2021, Narciso do Espírito Santo ofereceu tenaz resistência ao cumprimento do despacho do ministro das Relações Exteriores.

No dia 2 de Setembro daquele ano, o Correio Angolense escreveu a matéria abaixo a propósito do “artista” que hoje assumirá funções de consultor no gabinete de Téte António:

Exonerado do cargo de cônsul geral de Angola em Junho, Narciso do Espírito Santo Júnior está indiferente à decisão do ministro das Relações Exteriores e continua a exercer as funções com normalidade.No despacho em que o exonerou, o ministro das Relações Exteriores, Teté António, deu a Narciso do Espírito Santo Júnior um prazo de dois meses para ele e seu staff regressarem ao país e desse modo desocuparem o consulado para os futuros titulares. O prazo dado pelo ministro esgotou-se no dia 27 de Agosto. Desde que recebeu a ordem de exoneração, Narciso do Espírito Santos não fez qualquer diligência que sugerisse o fim da sua missão em Portugal. Pelo contrário, continua a praticar actos normais de um titular efectivo do consulado geral de Angola em Portugal. No dia 14 de Junho, logo a seguir ao despacho da sua exoneração, a Direcção de Recursos Humanos do Ministério das Relações Exteriores fez chegar ao cônsul geral de Angola em Portugal a circular n. 50 nos termos da qual Narciso do Espírito Santos deveria tomar, de imediato, acções “como orientar o sector financeiro e administrativo no sentido de dar tratamento às acçoes conexas ao regresso dos funcionários abrangidos, no período de 30 dias”, e, “preparar o expediente de partida do funcionário e sua respectiva família no concernente a bilhetes de passagem, guia de marcha e de vencimento”, “assegurar as acções relativamente ao controle, não permitindo a matrícula dos dependentes do funcionário” exonerado, “para que não seja factor impeditivo de regresso do funcionário, considerando que em Angola as aulas começam em Setembro. Em clara e assumida afronta à medida de exoneração, Narciso do Espírito Santo continua a praticar actos só permitidos a titulares em efectivo exercício de funções. Ontem, quarta-feira, 01, o exonerado cônsul espalhou pelos corredores do consulado um documento a que intitulou Plano de Actividades. Trata-se de um ambicioso roteiro que inclui excursões a localidades lusas como Madeira, Açores, Algarve, Portalegre e outros concorridos destinos turísticos portugueses. O consulado geral de Angola suporta os custos do longo passeio de Narciso Espírito Santo. Do cofre do consulado saiu dinheiro para as passagens aéreas para Açores e Madeira, hospedagem, aluguer de viatura, motorista para as visitas guiadas e ajudas de custo. Todas as despesas envolvidas nos outros destinos turísticos de Narciso do Espírito Santo correrão, igualmente, por conta do Estado angolano. A digressão do já exonerado cônsul começa no dia 11 e estende-se até ao final do mês de Setembro. Nesse – e como em todos os anteriores – passeio, Narciso do Espírito Santo incluirá na sua “bagagem” o vice-cônsul Carlos Santos. Proveniente do SIE (Serviço de Inteligência Externo), o vice-cônsul trocou o dever de denunciar aos seus superiores hierárquicos em Luanda as tropelias financeiras de Narciso do Espírito Santo pelas “migalhas” que recolhe nas companhias que faz ao “chefe”. Também exonerados em Junho, continuam, porém em Lisboa e a viver às expensas do Estado, os funcionários Amélia Quiala (secretária e prima de Narciso Espírito Santo), Conceição Salamanqueiro (agente consular e pessoa de extrema confiança do exonerado cônsul), Lukénia Casemiro (sobrinha), Wilson Muquixe (financeiro). Joana Feliciano não tem nenhum vínculo com o Ministério das Relações das Relações Exteriores, mas por causa da condição de prima de Narciso do Espírito Santo vive, também, a expensas do consulado. O exonerado cônsul geral de Angola em Portugal tem neste momento quatro coadjutores, nomeados por proposta dele, e todos eles a residirem na Expo, a mais cara área de Lisboa. Chegados a Lisboa há pouco menos de seis meses, nenhum deles aceitou usar carros da considerável frota de viaturas do consulado. Todos, indistintamente, exigiram carros novos. O último carro, destinado à vice-cônsul Conceição Mawete, esposa do antigo embaixador Mawete João Baptista, foi entregue terça-feira. Sob o pretexto de escassez de recursos financeiros, Narciso do Espírito Santo despediu muitos funcionários recrutados localmente, a maior parte dos quais angolanos, que vivem em Portugal pelas mais distintas razões. O salário auferido pelos angolanos despedidos, em média 1.500.00, não chega aos “calcanhares” dos gastos diários de Narciso do Espírito Santos e do seu inseparável companheiro nas suas deambulações pelos locais mais aprazíveis de Portugal. A situação que se vive no consulado geral de Angola em Portugal é um verdadeiro teste à autoridade do ministro das Relações Exteriores.  

Nomeado em Janeiro deste ano, Tetê António comprometeu-se, entre outros, a devolver alguma “ordem” ao Ministério das Relações Exteriores, uma instituição com enorme histórico de nepotismo e malversão de dinheiro público.

No dia 25 de Julho de 2019, dois anos antes, o Correio Angolense revelou que o cônsul geral de Angola em Portugal abandonou a casa de função por medo de bruxaria.

O Estado angolano adquiriu uma casa de função para o seu cônsul em Portugal no vistoso bairro lisboeta de Lumiar.

Porém, chegado a Portugal e alimentado por estranhas crenças, Narciso do Espírito Santo recusou instalar-se na residência que lhe estava destinada, o que obrigou o Ministério das Relações Exteriores a adquirir-lhe uma outra, num bairro ao gosto do novo cônsul.

Fontes diplomáticas que então falaram ao Correio Angolense na condição de não serem identificadas disseram que a recusa de Narciso do Espírito Santo de ocupar a residência oficial decorria de uma firme crença de que o imóvel poderia conter “pós” legados pelo seu anterior ocupante.

Descendentes de São Tomé e Príncipe, de onde os pais são naturais, os irmãos Espirito Santo – Narciso e Joaquim, recentemente afastado da embaixada norte-americana nos Estados Unidos  por devoção à pândega e a saias alheias – viveram temporariamente no antigo Zaíre. 

Acredita-se que é lá que adquiriram o hábito de suspeitar que casas anteriormente habitadas devem ser previamente “desinfestadas” antes de serem entregues a novos ocupantes.

Narciso do Espírito Santo não se contentou com a “desinfestação” da moradia oficial do cônsul. Exigiu e foi-lhe dada uma nova.

Tal como como Arcanjo Maria do Nascimento, também o antigo cônsul de Angola em Portugal tem um pendente na Direcção Nacional de Investigação e Acção Penal da PGR por suspeita de crimes de peculato e branqueamento de capitais.

A acção judicial contra Narciso do Espírito Santo foi desencadeada após uma delegação da Inspecção Geral da Administração do Estado (IGAE) haver constatado imensos e profundos “buracos” na gestão das contas do consulado.

As nomeações de Arcanjo Maria do Nascimento e de Narciso do Espírito Santo para funções muito sensíveis no gabinete do ministro das Relações Exteriores do país significa, na melhor das hipóteses, que o propalado combate à roubalheira  e à impunidade não passou de propaganda.

As nomeações de Teté António confirmam que, em Angola, em muitos casos o crime compense.