OMS decretou o fim da Covid-19. E Angola?

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Diz a sabedoria popular que mais facilmente se apanha um mentiroso do que um coxo.

À meia noite do dia 15 Abril passado, o através de um Decreto, o Presidente da República actualizou novas regras para a gestão administrativa da pandemia da Covid-19. 

Sob o argumento de que Angola estaria a registar um “relativo aumento” de casos de Covid e para evitar o “retorno a cenários anteriores” da pandemia, o Decreto do Presidente da República condiciona as entradas e saídas de Angola à apresentação de certificado de vacina.

O documento estabelece que as entradas no território nacional estão dependentes da apresentação de certificado de vacina que ateste a imunização completa ou, em alternativa, da apresentação do teste “do vírus SARS-COV 2, do tipo RT-PCR, com resultado negativo, efectuado nas 48 horas anteriores à viagem”.

O Decreto Presidencial condiciona a saída do território angolano a apresentação de certificado de vacinação que ateste a imunização completa, “sem prejuízo de formalidades adicionais exigidas pelo país de destino”.

A decisão presidencial estabelece como medida de contenção sanitária a obrigatoriedade da utilização de máscara facial nas unidades sanitárias e nas farmácias ou serviços equiparados.

A totalidade dos países da Europa Ocidental, bem como os Estados Unidos,  principais destinos de angolanos, abriram, há muito, mão de exigências de vacinação contra a Covid a todas as pessoas que demandam os seus territórios.

Em Portugal, por exemplo, um dos países mais procurados pelos angolanos, hospitais e farmácias já dispensaram, faz tempo, o uso de máscara facial nos seus espaços.

Sexta-feira, 5 de Abril, a Organização Mundial da Saúde decretou que a Covid-19 deixou de ser uma emergência global de saúde. 

Em comunicado, o etíope Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), anunciou que a pandemia da covid-19 chegou ao fim, três anos depois. 

A doença custou a vida a  mais de 6,9 milhões de pessoas em todo o mundo. 

“É com grande esperança que declaro o fim da covid-19 como uma emergência de saúde global. No entanto, isto não significa que a covid-19 tenha deixado de ser uma ameaça para a saúde a nível global. Na semana passada, a covid-19 tirou uma vida a cada três minutos e estas são apenas as mortes de que temos conhecimento”, afirmou Tedros Ghebreyesus, numa conferência de imprensa.

Alegando consultas regulares com a Organização Mundial da Saúde, as autoridades angolanas, que afirmaram, há menos de um mês, haverem registado “relativo aumento” de casos de Covid terão agora, de decidir se conformam com a constatação da organização transcontinental ou se vão continuar agarradas à sua crença de que há aumento de casos de covid no país.

Especialistas angolanos têm reiterado que Angola “culpa” a Covid pelos milhares de angolanos que morrem vítimas de malária, doenças diarreicas, febre tifoide e outras, essencialmente provocadas pela ausência de saneamento básico.

Além de que a alegação de que haveria no país “um relativo aumento” de casos de covid  oculta, mal, a ganância dos donos e gestores das poucas unidades sanitárias habilitadas para fazer os testes do vírus SARS-COV 2, do tipo RT-PCR.

Na Europa Ocidental, os angolanos são dos poucos, muito poucos cidadãos, obrigados a exibir testes de covid às transportadoras aéreas que os levam ao seu país. 

Os laboratórios e farmácias portuguesas facturam anualmente milhões de euros por causa da bizarra exigência do Governo de Angola.

As autoridades angolanas esforçaram-se por colocar o país entre as principais vítimas mundiais da Covid-19.

Mas, por razões que a ciência ainda não explicou, Angola foi dos países que menos sofreu com a pandemia.

Se a Covid tivesse atingido em Angola as proporções que teve em países como Itália, Espanha, Brasil ou Estados Unidos, muito seguramente não teria sobrado nenhum angolano para contar a história.

Por ora, é grande a expectativa sobre se o Governo de Angola vai conformar-se à nova realidade anunciada pela OMS ou se, como não é de todo impossível, vai continuar a alegar aumentos relativos de casos de Covid, que entidade independente alguma consegue comprovar.

Para já, ao Governo aplica-se a máxima de que mais facilmente se apanha um mentiroso do que um coxo.

O aludido “aumento relativo” de casos de Covid foi certamente uma balela para continuar a engordar bolsos insaciáveis.

Com a Covid-19 “arrumada”, falta agora que o Tribunal de Contas e a Assembleia Nacional exijam aos membros da Comissão Multisectorial de Prevenção e Combate da Pandemia da Covid a necessária prestação de contas.

À pala da pandemia, Angola gastou milhões de dólares construindo pavilhões desnecessários, importando equipamento que nunca soube manusear e, até, alugando companhias aéreas estrangeiras para o transporte de medicamentos e equipamentos que a TAAG faria com um pé às costas e outro no bolso.

A prestação de contas é seria um sinal de respeito aos angolanos.