OCIOSIDADE NOS CONSULADOS ANGOLANOS

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Através do Decreto Presidencial número 189/23, de 29 de Setembro de 2023, Angola dispensou o visto de turismo aos cidadãos de 98 países, para estadas anuais inferiores a 90 dias.

Por ocasião da sua última mensagem sobre o estado da Nação, no dia 16 de Outubro de 2023, o Presidente da República disse que com essa medida, unilateral, Angola “passa a estar mais aberta ao turismo estrangeiro”.

A lista de beneficiários desta isenção de vistos abrange uma ampla gama de países em várias regiões do mundo.

Não se conhecem estatísticas co impacto da medida sobre o turismo.

Também (ainda) não são evidentes esforços tendentes a, como disse o Presidente da República, “melhorarmos a qualidade dos serviços públicos e privados para anualmente atrairmos um número cada vez maior de turistas”.

Aliás, conhecedor de muitos lugares turísticos do mundo, para onde se desloca assiduamente, o Presidente da República vê no estado actual de Angola um irresistível apelo a turistas estrangeiros.

“Nós já fizemos turismo em outros países e andamos em estradas esburacadas. Há turistas que preferem ficar na praia; há turistas que preferem ficar nas grandes cidades em hotéis de cinco estrelas, mas também há turistas que gostam de apanhar chuva, poeira, lama, portanto, o estado das picadas acaba até por ser desafiador”

Se estradas esburacadas, poeira, lama e chuvas são elementos estruturantes do turismo, Angola já não precisa de mover uma palha.

Mas, se não é ainda evidente o impacto da isenção de vistos de turismo a cidadãos de 98 países, espalhados por quatro continentes, o que hoje é indiscutível é a ociosidade que se instalou nos consulados e sectores consulares das embaixadas de Angola.

Sem vistos de turismo para emitir, os funcionários dos consulados e serviços consulares das embaixadas angolanos, em quantidades que superam largamente as necessidades, são agora tomados pelo ócio e pela tentação de ocupar o tempo em trabalhos paralelos.

O Ministério das Relações Exteriores não ajustou a quantidade de funcionários consulares ao Decreto Presidencial, de que resultou uma drástica redução do volume de trabalho.

Em países como Argentina, Estados Unidos, México ou Argélia, cujos cidadãos não são propensos a turismo de “poeira, chuva e estradas esburacadas”, os funcionários consulares foram literalmente tomados pelo ócio.

Nomeados às “carradas” – porque as embaixadas e consulados continuam a ser centros de emprego de familiares, amigos, amantes e segundas e terceiras opções femininas de governantes – os funcionários consulares disputam, quase à bofetada, os escassos pedidos de vistos de trabalho que lhes caem sobre as mesas.

Para reduzir consumos de energia eléctrica, internet, água, papel higiénico e visando também a redução da fofoca e da intriga, que a ociosidade sempre promove,
e a braços. Imagina excedente de força de trabalho,os responsáveis de alguns consulados e sectores consulares de embaixadas passaram a fazer escalas de trabalho.

Mas, as escalas de trabalho não reduziram as dores de cabeça aos financeiros dos consulados. Confinados em casa, os funcionários “entretêm-se” com telefones, insumos de energia e de água e, depois, e remetem as facturas aos consulados.

Qualquer país, gerido com responsabilidade, teria ajustado o quadro dos funcionários consulares àquele Decreto Presidencial, o que se traduziria na sua drástica redução.

Não faz sentido nenhum que passando por uma crise económica e social sem precedentes, o Governo continue a fomentar a ociosidade nos seus consulados. Isto é, a pagar a pessoas que não trabalham.