PORQUÊ DEMITIR
    JOB CAPAPINHA?

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    A recente afirmação de Job Capapinha, governador do Kwanza Sul, segundo a qual “se a oposição chegar ao poder, vai mexer mais no dinheiro público do que o MPLA”, coloca o líder do Partido, que é também o Presidente da República, perante uma dilemática situação.

    1. A demissão de Job Capapinha seria inevitavelmente associada à confissão de que o MPLA é um ajuntamento de assaltantes do dinheiro público, situação que é conhecida pela generalidade dos cidadãos lúcidos deste país;

    2. Se mantém Job Capapinha no lugar, João Lourenço estará a corroborar um “soundbyte” atribuído a vários autores segundo o qual “quem diz a verdade não merece castigo”.

    Na verdade, se demitisse o governador do Kwanza Sul por causa daquela afirmação, João Lourenço estaria a castigá-lo por ter feito uma das raras afirmações correctas desde que governa aquela província. Além de que o Presidente da República passaria para o País a mensagem de alguém a quem a verdade incomoda. Também não se livraria da acusação de alguém que toma a generalidade dos angolanos como um bando de imbecis, incapazes de enxergar o óbvio e evidente.

    A João Lourenço também falta autoridade moral para punir a lapalissada de Job Capapinha.

    Em Outubro de 2020, na sua primeira entrevista ao The Wall Street Journal, João Lourenço atribuiu ao regime anterior ao seu, mas de que foi uma das peças chaves mais importantes, o desvio de arredondados 24 mil milhões de dólares. 

    Antes, em entrevista que o Diário de Notícias publicou no dia 3 de Fevereiro de 2020, João Lourenço assumiu a sua responsabilidade na roubalheira que o MPLA institucionalizou no país.

    Ninguém pode dizer que não fazia parte do sistema“, disse naquela entrevista.

    Entre os vários cargos que João Lourenço desempenhou no regime que “fanou”, segundo ele, aproximados 24 mil milhões de dólares, destacam-se os de comissário provincial do Moxico e Benguela, deputado à Assembleia do Povo, Comissário Político das FAPLA, Deputado à Assembleia Nacional, secretário do Bureau Político para a Informação, chefe da bancada parlamentar do MPLA na NA, secretário-geral do MPLA, 1º vice-presidente da Assembleia Nacional, vice-presidente do MPLA e ministro da Defesa.

    É, portanto, um verdadeiro homem do sistema.

    Donde, demitir Job Capapinha por dizer o que o próprio João Lourenço já assumiu, seria não apenas um acto de injustiça, mas também de falta de solidariedade para com um seu camarada no sistema que delapidou e continua a delapidar o país.

    De resto, Job Capapinha parafraseou João Lourenço. Ambos disseram a mesma coisa por palavras diferentes.

    Por essas e outras razões, não é crível que Job Capapinha receba, agora, guia de marcha para ir pentear os pêlos a macacos.

    Governador do Kwanza Sul desde Janeiro de 2019, Job Capapinha já fez declarações que teriam justificado plenamente a sua imediata exoneração.

    João Lourenço deixou escapar a oportunidade de afastar Job Capapinha quando, num encontro com a juventude local, advertiu que a poeira que se tornou no principal símbolo da cidade do Sumbe e sua principal “atracção turística” não seria combatida enquanto o MPLA permanecer no poder. Tem respeitado a palavra. 

    O Presidente da República também assobiou para o lado quando o governador do Kwanza Sul confessou a sua inaptidão para gerir uma província, uma vez que, disse na altura, a única experiência que tinha decorria da sua condição de activista do MPLA, missão a que dedicou toda a sua vida.

    Nas circunstâncias actuais, a demissão de Job Capapinha não alteraria a opinião formada da generalidade dos angolanos esclarecidos sobre como o MPLA lida com a rés pública. 

    A demissão de Job Capapinha só produziria um efeito positivo: contribuir para a saúde visual da população do Kwanza Sul, para quem é um verdadeiro martírio dar de caras com um governador que é um misto de boçalidade, incompetência, arrogância, intolerância política e tudo mais. 

    O único ponto a seu favor é a honestidade de caracterizar o MPLA, tal como a maioria dos angolanos o vê e percepciona: um bando de assaltantes dos cofres públicos.

    A Job Capapinha quando o “pé não lhe foge para o chinelo”, o que acontece recorrentemente, foge-lhe a boca para a verdade, o que acontece com alguma regularidade.

    Num momento em que o Presidente da República não se cansa de gabar a sua cruzada contra a corrupção, embora a maioria dos angolanos lhe desconheçam os resultados, a sugestão de Job Capapinha de que uma eventual ascensão da oposição ao poder seria o fim da mamata soa aos ouvidos dos angolanos como aquela batida dos Jovens do Prenda quando estão no “ponto G”…

    Huhuhuiii!

    PS: Ao tempo em que o MPLA ainda tinha ou fingia algum pudor, uma afirmação como a de Job Capapinha teria dado azo a uma declaração do Bureau Político de veemente condenação ao governador do Kwanza Sul, seguida da sua imediata expulsão das fileiras do Partido.