SÓ A FÉ NÃO BASTA

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    Há duas semanas, no programa Conversas Essenciais, o cientista político Carlos Pacatolo inscreveu a nova Divisão Política e Administrativa do país naquilo que Michael Oakeshott define como “Política da Fé”.

    Em “A Política da Fé e a Política do Cepticismo”, Michael Oakeshott, filósofo e teórico inglês (11 de Dezembro de 1901 a 19 de Dezembro de 1990), descreve a Política da Fé como uma abordagem governamental optimista, onde se “acredita firmemente na capacidade do Governo de planear e melhorar a sociedade através de intervenções directas”. 

    Já a “Política do Cepticismo”, na definição do autor, é caracterizada “por uma abordagem mais cautelosa e desconfiada, enfatizando a limitação das capacidades governamentais, a importância da liberdade individual e a preferência por evoluções orgânicas na sociedade em vez de mudanças impostas”. 

    No poder desde 11 de Novembro de 1975, o MPLA tem se superado constantemente na “invenção” de fórmulas, programas e políticas tendentes a tirar o País do pântano económico e social.

    Assentes exclusivamente na Política da Fé, todas as tentativas de melhorar a vida dos angolanos levadas a cabo pelo MPLA redundaram em completo fracasso.

    Nos anos mais recentes, as tentativas do MPLA traduziram-se, entre centenas de outras, em extravagâncias como Programa de Reconversão da Economia Informal (PREI), supostamente destinado a incorporar mais agentes económicos na economia formal, Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Agrícola, Janela Única de Concessão de Direitos Fundiários, Projecto de Melhoria do Desempenho e Crescimento da Cadeia de Valor do Café, MUCAFÉ, Programa Integrado de Desenvolvimento Local e Combate à Pobreza, PROPRIV, PAC (Programa de Apoio ao Crédito) PAPAGRO, Programa de Apoio à Governação Económica, PLANAGEO, PLANAGRÃO, Programa de Combate às Grandes Endemias pela Abordagem das Determinantes da Saúde, Programa da Melhoria de Gestão das Finanças Públicas e outras inutilidades.

    Em busca de notoriedade, a primeira-dama da República dá o rosto, com fundos públicos, a excentricidades como Nascer para brilharTodos Unidos pela Primeira Infância (TUPPI)Programa de Salvaguarda para Jovens (SYP)Transforme Vidas, Seja Mulher Carruagem Clínica Tata Uhayele.

    A mais recente e exótica “invenção” do Governo do MPLA é um tal Projecto de Emponderamento da Raparigas e Aprendizagem para Todos (PATII)..

    Qualquer dicionário da língua portuguesa define rapariga como um substantivo feminino que significa uma mulher que está no período intermédio entre a infância e a adolescência.

    Um Governo que concebe políticas exclusivamente dedicadas a raparigas não só institucionaliza a discriminação entre as mulheres, como prova que além da fé já não tem mais nada para dar ao país.

    Sem nada o que fazer, já que o Presidente da República confiou numa ministra de Estado tarefas que caberiam numa vice-presidente, Esperança Costa presidiu na semana passada à segunda sessão ordinária de uma tal Comissão Multissectorial para a Implementação do PATII. 

    Quer dizer, o Governo criou uma comissão multissectorial para implementar um programa que, em qualquer paragem arejada pelo conhecimento, seria tomado como um disparate.

    Não é claro que a vice-presidente da República consiga explicar ao País a razão do tratamento diferenciado que o Governo dá a raparigas. 

    Quando Angola se tornou independente, em 1975, a actual vice-Presidente da República contava 14 anos. Com aquela idade, é admissível que não tivesse ciência de muita coisa ocorrida no tempo colonial.  Mas, aos 63 anos, que completará em Maio, a vice do Presidente João Lourenço é obrigada a saber a conotação associada à rapariga no tempo colonial. 

    A milhões de angolanos, sobreviventes da era colonial, rapariga “soa” à prostituta, meretriz, ou seja, kiwaya, em kimbundu original, que é o de Malange.

     Sempre em surpreendentes contorcionismos para driblar a policrise, como Fernando Pacheco prefere caracterizar a situação em Angola, não se duvide se, num assomo de “genialidade”, o Governo aprovar, ainda neste mandato, um programa de apoio à circuncisão de rapazes, para lhes retirar pretexto para invocar discriminação em relação às raparigas. 

    A quantidade, diversidade e os muitos trilhões de dólares já gastos em projectos e programas públicos dizem-nos que não é por falta de “criatividade” que o MPLA atolou o país numa crise sem saída à vista. O problema do MPLA é a sua fé inabalável de que mesmos programas, ainda que com designações diferentes, os mesmos objectivos e protagonistas podem gerar resultados diferentes. Na sua cega fé, o MPLA acredita que pode  obter resultados diferentes insistindo no mesmo treinador, nos mesmos jogadores e na mesma forma de jogar. Em suma, insistido em fórmulas já testadas e fracassaram em toda a linha.

    Em Coríntios 13:2 diz-se que mesmo à fé, que move montanhas, é preciso acrescentar algum valor, alguma virtude.

    É também por isso que a Divisão Política e Administrativa, que o Governo toma como panaceia para a policrise, está fadada ao fracasso.