Angola opta pelo “nim”

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“Entalada” entre o apoio à invasão russa da Ucrânia e a sua condenação, Angola optou por uma falsa neutralidade.

Ou seja, entre o sim e o não, Angola ficou-se pelo nim!

O apelo ao cessar-fogo, feito pelo Ministério das Relações Exteriores, disfarça muito mal uma implícita aprovação da agressão russa a um país independente.

“(…) a República de Angola exorta às partes a observarem um cessar-fogo, primando pela resolução do conflito, por via do diálogo político, em pleno respeito do Direito Internacional, conforme consagrado na Carta das Nações Unidas”, lê-se numa invulgarmente curta nota do MIREX.

Em linguagem simples, um apelo ao cessar fogo não significa condenação da agressão; significa, apenas, que as tropas russas devem parar os tiros, mas manter-se nos territórios que tomaram à força.

No dia em que a Rússia iniciou a invasão, a Rádio Nacional de Angola concedeu um generoso tempo de antena ao embaixador de Moscovo no nosso país. Sem quaisquer limitações de tempo, o representante de Putin em Angola perorou tranquilamente sobre as causas e as motivações da agressão. Não há ciência de que a principal estação radiofónica pública tivesse procurado o contraditório junto de representantes do país agredido.

O Jornal de Angola, outro “porta-voz” do Governo angolano, prefere a dúbia terminologia “operação militar” à directa agressão ou invasão russa.

Em política, isso significa muita coisa.

Sempre lesta a tomar posição sobre assuntos alheios, sobretudo quando envolvem golpes de Estado, que condena invariavelmente, mesmo lhes desconhecendo as motivações, Angola tergiversa perante o apelo de Moscovo ao exército ucraniano para a tomada do poder. 

Ou seja, as autoridades angolanas alimentam duas perspectivas de golpes de Estado. Condenáveis quando ocorrem em África e toleráveis quando têm por palco outros continentes e envolvam aliados “naturais”.

Com interesses próprios por defender, de Angola não se esperava e nem se podia pedir uma posição precipitada perante um conflito que tem eco mundial.

O envolvimento directo da Rússia e indirecto dos Estados Unidos recomendava muita prudência a Angola. Qualquer posição implica riscos.

Mas, ao “exorta às partes”, Angola  colocou agressor e agredido no mesmo plano, o que destapa a sua compreensão para com a “parte” agressora.

É claro que o mundo e, nomeadamente, os Estados Unidos, registou a “equidistância” de Angola.

Depois dessa posição, doravante o Executivo angolano precisará de muito descaramento para condenar golpes de força noutros países.

Numa segunda nota, também emitida no dia 25, o MIREX garante que “tudo fará para salvaguardar a vida dos seus cidadãos residentes na Ucrânia”.

Não sendo conhecida da Rússia qualquer vontade de cessar a agressão e menos ainda de dialogar com o Governo de Kiev, não se sabe a quê magia o Executivo angolano recorrerá para salvaguardar a vida dos nossos concidadãos num país que está a ferro e fogo.